O desemprego atinge 9,6 milhões de brasileiros e quase 3 milhões entraram neste grupo em um ano. O problema é sério e doloroso demais para servir como parte da manipulação política do governo para tentar se salvar. O ex-presidente Lula falando aos sindicalistas de sua base quis responsabilizar a Operação Lava-Jato pela queda do PIB e pelo desemprego.
O governo fez uma política econômica desastrosa que levou à aceleração da inflação, queda da confiança, desestabilização das finanças públicas e recessão. Os erros começaram no governo Lula e foram mantidos no governo Dilma. Apesar de Lula ter deixado o país crescendo a 7,5%, foi ele que plantou os desequilíbrios que elevaram a inflação e aumentaram o déficit. Dilma persistiu nos erros e os aprofundou com coisas como as pedaladas e a manipulação de preços de energia. A política econômica dos governos petistas mudou em 2008 e foi essa guinada que provocou a crise atual.
É parte das técnicas de manipulação de Lula, também usadas por Dilma, fazer confusões propositais entre causa e efeito dos problemas ou dos bons indicadores. Esta frase de Lula, dita para a sua base de sindicalistas, deve ser vista dentro dessa estratégia de confusão deliberada:
PUBLICIDADE
— Quando tudo isso terminar, você pode ter muita gente presa, mas pode também ter muita gente desempregada neste país. Vocês têm que procurar a força-tarefa e perguntar se eles têm consciência do que está acontecendo neste país.
Com isso, Lula estava tentando confundir o debate brasileiro, uma vez mais, e culpar alguém pelos seus próprios erros. O truque de jogar a crise econômica sobre a Lava-Jato é perfeito porque resolve dois problemas. Ele se afasta do ambiente minado que aumenta a rejeição ao governo e demoniza a Lava-Jato como destruidora de PIB e de empregos.
Lula é extremamente inteligente e especialista em armadilhas mentais nas quais aprisiona os que o seguem por amor ou interesse. Mas é preciso ter clareza do que está em curso no país. Há dois responsáveis pelo desemprego crescente: a política econômica dos governos Lula-Dilma e a corrupção que desestruturou as empresas.
O combate à corrupção tem revelado fatos que não poderíamos ignorar. Ficando só no que soubemos nos últimos dias: havia na maior empreiteira do país um aparelho clandestino, uma contabilidade paralela, uma estrutura secreta de comunicação entre executivos e funcionários que geriam distribuição de propinas a políticos com codinomes. É uma aberração. É incrível que se possa pensar que o combate a isso é que seja desorganizador da economia. A corrupção é o problema.
Lula chegou a ter uma medida. Disse que 2,5 pontos percentuais da queda do PIB são decorrentes do “pânico criado na sociedade brasileira” pela Lava-Jato. Um tumor tão grande não pode ser enfrentado sem que isso abale o organismo, mas o tumor é o problema e não o tratamento.
O ex-presidente é inimigo da Lava-Jato. Se tivesse poderes, ele terminaria hoje com as investigações, pressionaria ministros do Supremo, usaria os órgãos governamentais como aparelhos partidários, cobraria gratidão do procurador-geral da República em moeda de subserviência. Como atingido pelas investigações, entende-se seu sentimento, mas não seus métodos de interferência, ou tentativa, flagrados nas conversas que teve.
Culpar a operação por tirar pedaços do PIB, num momento em que a economia desmorona, e por destruir empregos, com o problema invadindo a casa dos brasileiros, é usar mais uma vez uma arma espúria na sua guerra particular. Mas Lula é assim mesmo: os méritos são todos dele; os problemas são todos alheios.
A inflação deu um salto porque a presidente Dilma manipulou preços públicos, principalmente os de energia, e os soltou após as eleições. O governo ampliou gastos na crise de 2008 e não reverteu o processo no momento seguinte. Para esconder os rombos fiscais, maquiou estatísticas. A dívida bruta deu um salto. Por isso o Brasil foi rebaixado. A má gestão e corrupção fizeram a maior empresa do país ter perdas contábeis de R$ 100 bilhões. A Lava-Jato não tem responsabilidade em nada disso. O governo é o culpado.