O submundo do crime 02/04/2016
- MERVAL PEREIRA - O GLOBO
Mensalão e petrolão, escândalos de corrupção que deixaram marcas indeléveis na História do Brasil e do partido que se propunha a mudar a maneira de fazer política no país, são consequências quase que obrigatórias da atuação no submundo do crime que sustentou a chegada do PT ao comando do governo federal.
Não é à toa que figuras como o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do PT Silvinho Pereira, condenados no mensalão, aparecem novamente na fase atual da Lava-Jato, que, batizada de Carbono 14, exuma fatos da pré-história petista rumo ao poder.
À linguagem chula do chefão, soma-se agora uma série de suspeitas de ações criminosas: assassinatos em série, chantagens, ameaças de todo o tipo, incêndio possivelmente criminoso, propina da máfia dos transportes públicos e do recolhimento de lixo em cidades dirigidas pelo PT.
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O estereótipo do sindicalismo criminoso, tornado famoso pelos relatos cinematográficos de Hollywood, está na raiz da ascensão política do PT e, tal qual um novo rico que quer esconder seu passado, ou comprar título de nobreza, também os petistas gostariam de sepultar o passado para assumir postura de grandes líderes políticos.
A maioria conseguiu mudar a aparência às custas de bem cortados ternos Armani, ou do nacional Ricardo Almeida, e manteve a pose até quando conseguiu, mas o espírito continua o mesmo. Espectros do passado teimam em persegui-los: o cadáver insepulto do ex-prefeito de Santo André cisma de confrontá-los; os companheiros que, pelos relatos da família e que agora passam a ser investigados pela Operação Lava-Jato, desviaram-se do caminho vislumbrado por Daniel e acabaram por se livrar dele da maneira mais brutal.
A Operação Carbono 14, desdobramento 27 da Lava-Jato, deflagrada ontem, aprofunda a investigação sobre lavagem do dinheiro de empréstimo do Banco Schahin para o PT, que teria sido pago com contratos da Petrobras, tendo como intermediário o amigo de Lula José Carlos Bumlai.
Quem ligou as pontas entre o empréstimo fraudulento e o crime de Santo André foi a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff. Meire Poza entregou à Polícia Federal documentos que provam que pelo menos metade do empréstimo, cerca de R$ 6 milhões, tiveram como destinatário final o empresário Ronan Maria Pinto, preso ontem pela Lava-Jato. (Coincidentemente, o escritório de Meire Poza foi incendiado ontem, em mais um toque mafioso nessa trama escabrosa).
Segundo relato do empresário Marcos Valério, foi o pagamento de uma chantagem do empresário do ABC contra os ex-ministros Gilberto Carvalho, José Dirceu e também contra Lula, para não contar a verdadeira história do assassinato de Celso Daniel.
O blogueiro chapa-branca Breno Altman, que escreve no blog 247 e dirige o Opera Mundi, foi levado coercitivamente para depor, pois aparece novamente em esquemas criminosos, como a ligação de José Dirceu com doleiros e assemelhados.
O documento que Meire apresentou à Polícia Federal foi lhe dado pelo doleiro Enivaldo Quadrado, braço direito de Youssef, condenado no mensalão. Cuja multa na ocasião foi paga pelo PT, através de Altman.
O ex-secretário-geral do PT Silvinho Pereira (ou Silvinho Land Rover, devido a um carro que recebeu de presente no mensalão) recebia uma mesada para ficar calado, pois é dado a remorsos que precisam ser muito bem remunerados para não se tornarem delações premiadas.
Na época do mensalão, ele se dispôs a depor para O GLOBO, mas acabou arrependendo-se, num surto psicótico em que quebrou todo o seu apartamento e se disse ameaçado de morte. Diante do fato de que nada menos que nove mortos já surgiram no rastro do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, seu temor não deve ser sem motivo.
Também o delator Paulo Roberto Costa declarou-se com medo de ser morto, alegando justamente o caso Celso Daniel. A Operação Lava-Jato chega, portanto, às profundezas da lama petista.
Os fantasmas do mensalão unem-se à atualidade do petrolão para mostrar a continuidade delitiva dessa organização criminosa - já oficialmente assim identificada - que tomou conta do governo brasileiro, de acordo com a Lava-Jato.