Conflito agrário vai para o asfalto por causa do impeachment 16/04/2016
- MATHEUS LEITÃO - G1
Em ato realizado ontem em frente à sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, cerca de 1 mil manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) gritaram palavras de ordem contrárias “ao golpe” e à entidade que representa os integrantes do agronegócio.
Favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, a CNA está tentando mobilizar 20 mil produtores rurais para estarem na Esplanada dos Ministérios neste domingo (17), dia da votação no plenário da Câmara dos Deputados do processo de impedimento da petista.
Aliados do governo, como o MST, têm reiterado que o processo de impeachment em curso é um golpe antidemocrático. Eles alegam que não houve caracterização de crime de responsabilidade por parte da presidente. A oposição e também setores da sociedade, como a CNA, apontam que Dilma cometeu crime de responsabilidade ao autorizar as chamadas "pedaladas fiscais".
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Enquanto a CNA tem organizado, por meio de José Mario Schreiner – um dos seus vice-presidentes – a ida de manifestantes à Esplanada junto com um trator inflável de 10 metros de altura e mais 35 de comprimento, integrantes do MST têm chegado em Brasília para participar do ato do outro lado do muro, esta a favor do governo.
Uma divisória com chapas de aço foi montada em quase todo o gramado da Esplanada dos Ministérios com o objetivo de evitar confrontos. A imagem do país dividido tem sido criticada nas redes sociais.
Segundo a assessoria de imprensa da CNA, no ato ontem, os manifestantes do MST ameaçaram invadir o prédio, jogaram ovos com tintas vermelhas e creolina nas portas e janelas de vidros.
Um fotógrafo da entidade supostamente foi agredido e teve seu equipamento apreendido.
No site da CNA, Schreiner definiu o protesto do MST como "mais uma prova de incitação à violência e um ataque à iniciativa privada”.
Em vídeo enviado ao Blog pela CNA, é possível ouvir um dos manifestantes do MST afirmando: “Não vamos deixar que o sangue dos nossos mortos sejam em vão". Não [iremos] deixar que os sangues dos nossos mortos seja em vão. Nós vamos continuar a luta. Nós vamos vingar os nossos mortos com muita ocupação neste país, CNA. Se prepara que nós estamos chegando”.
O Blog procurou o MST para questionar sobre as acusações da CNA. Segundo a assessoria de imprensa do MST, não houve agressão.
"É completamente mentira. Não teve nenhum fotógrafo agredido. O ato durou apenas meia hora. Quem quis tirar foto pode fazer tranquilamente", afirmou o MST ao Blog.
Sobre as declarações da manifestante, o MST explicou que não há nada de diferente daquilo que o movimento tem defendido: "contra o latifúndio, contra as terras improdutivas desse país, e o modelo de agricultura apregoado pela CMA. Um modelo de morte, que utiliza veneno e não produz alimentos saudáveis".
Na visão do MST, este comportamento causa morte no campo e que, neste mês, completa-se 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás.
"Acabamos de enterrar dois sem-terras no Paraná. A CNA, através da defesa deste modelo de agricultura, incentiva a concentração de terra, que produz violência no campo e mata sem terra", ressaltou o MST.
Neste sábado (16), a CNA também promete realizar um “tratoraço”, com mais de 100 tratores, a favor do impeachment a 70 quilômetros de Brasília.