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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O dilema de PMDB e PSDB
26/04/2016 - MERVAL PEREIRA - O GLOBO

PMDB e PSDB vivem dilema em provável troca de papéis. O PMDB está próximo de voltar à Presidência da República pela terceira vez de maneira indireta. Foi assim com José Sarney e Itamar Franco, vice-presidentes que assumiram o governo na falta do presidente eleito, Sarney devido à morte de Tancredo Neves, e Itamar em decorrência do impeachment de Collor.

Nos dois casos, no entanto, a ligação dos vices com o partido era precária. Sarney saiu da Arena e filiou-se ao PMDB para poder concorrer na chapa com Tancredo, transformando-se em um dos grandes caciques da sigla, e Itamar, que tinha origem no velho MDB, filiou-se ao PRN para concorrer ao lado de Collor e voltou ao PMDB antes do impeachment. Terminou a vida no PTB, após ter passado pelo PPS.

Temer é talvez quem melhor represente o PMDB dos tempos recentes, à falta de figuras marcantes no partido, como Ulysses e Tancredo. A decisão do PMDB de não disputar várias eleições presidenciais nos últimos anos explicaria por que não tem uma imagem política nacional, embora domine a política regional, mantendo sua estrutura enraizada por todo o país.


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Deixando, no entanto, que questões locais se sobrepusessem às nacionais, demonstrou uma vocação política restrita, aceitando o papel de coadjuvante de PT e PSDB, partidos que têm “vocação presidencial”.

O cientista político Carlos Pereira, da FGV- Rio, identifica em sistemas presidencialistas multipartidários como o nosso dois caminhos prioritários para os partidos: o majoritário, que é o do PT e o do PSDB, por exemplo, e o do legislador mediano, que é o do PMDB.

Partidos podem preferir seguir o caminho majoritário, lançando candidatos críveis e competitivos para a Presidência, analisa Pereira. “Se vitorioso nas eleições, esse partido obteria os maiores benefícios, uma vez que o presidente da República é muito poderoso e dispõe de uma série de recursos de poder e orçamentários sob sua discricionariedade”.

Entretanto, essa escolha não seria destituída de custos, adverte, pois esse partido necessariamente seria, por exemplo, o responsável por potenciais erros na gestão do governo. “Mas o saldo dessa escolha seria positivo”, avalia o cientista político. Entretanto, se souber resistir o bastante à tentação de sair da rota majoritária e aguentar o tranco de ser oposição, esse partido pode vir a se tornar o majoritário vitorioso no futuro próximo, como aconteceu com o PT.

Essa seria, portanto, a esperança e o que nutriria o partido a continuar nessa trajetória, mesmo sendo o perdedor. O caminho alternativo ao majoritário seria o do legislador mediano, quando o partido não disputaria a Presidência com candidato próprio e preferiria apoiar, na condição de partido essencial ( pivotal) na coalizão, o partido vitorioso na trajetória majoritária.

Essa estratégia não geraria os altos retornos da trajetória majoritária vencedora, mas também não proporcionaria os riscos de ser o majoritário perdedor. “Ou seja, geraria um retorno intermediário, que teria condições de proporcionar sobrevivência política de seus membros no longo prazo numa espécie de ‘ zona de conforto’”, avalia Pereira, situação que ocorre com o PMDB.

Enquanto o PMDB tem enfrentado o dilema de mudar da trajetória do legislador mediano para o majoritário com o impeachment, o PSDB tem justamente enfrentado o dilema inverso, com a possibilidade real do Temer de se tornar o próximo presidente. Ou seja, o de se tornar o legislador mediano do governo Temer. Ou, como define Pereira, ser o “PMDB do PMDB”.

O receio do PSDB de virar o partido essencial (pivotal) do governo Temer, diz ele, é o de como construir narrativa de oposição a esse governo no futuro próximo (2018), tanto se o governo for virtuoso ou fracassar.

A escolha/ dilema que hoje se abre ao PSDB é, portanto, entre maximizar sua trajetória majoritária perdedora, e não participar do governo Temer na expectativa de ser vitorioso em 2018, versus ofertar seus melhores quadros e dar qualidade política ao governo Temer, tornando-se a sigla essencial (pivotal) da coalizão do próximo governo, na condição de legislador mediano.

Uma alternância de papéis que pode ser momentânea, se o PMDB continuar sendo vítima da própria trajetória política, sem condições de governar, mas imprescindível a qualquer governo. Ou definitiva, se o PMDB, no caso de o provável governo Temer der certo, assumir o papel de líder de centro- direita que ainda tem no PSDB hoje seu principal representante.


  

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