Teori tira o bode da sala de Temer 05/05/2016
- IGOR GIELOW - FOLHA DE S.PAULO
O incrivelmente protelado afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados, que ainda será alvo de intensa disputa, fecha uma semana de boas notícias na área judicial para Michel Temer. O homem que provavelmente assumirá a Presidência interinamente viu o maior bode político que carregava ser retirado de sua sala.
O Supremo se junta à Procuradoria-Geral da República como fonte de crédito para Temer. Antes da decisão da manhã desta quinta (5), o Ministério Público já havia deixado o hoje vice-presidente fora do rol de prováveis investigados pela Operação Lava Jato a partir da delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), uma lista cheia de figurões do seu PMDB e que inclui o presidente do PSDB, senador Aécio Neves.
Agora, se Cunha realmente ficar afastado do comando da Câmara, Temer perderá na hora certa o aliado. Política é uma selva cruel: o processo do impeachment de Dilma Rousseff foi tocado com mão de ferro por Cunha na Câmara, para alegria de Temer e da oposição, mas a figura tóxica do deputado é intolerável para um Temer buscando respaldo na opinião pública.
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Como precisa da Câmara para tocar suas primeiras medidas, confirmado o afastamento temporário de Dilma pelo Senado na semana que vem, Temer teria de fazê-lo em conjunto com o político provavelmente mais impopular do país hoje. Agora, se a decisão provisória de Teori Zavascki for mantida, não mais.
Não que haja grandes vantagens do ponto de vista ético -fora o risco de eventuais vendetas do grupo de Cunha, forte e influente na Casa. O presidente que assumirá é o notório Waldir Maranhão (PP-MA), investigado pela Lava Jato e por outros crimes que igualmente nega.
Membro típico do baixo clero, aquele estrato parlamentar que impressionou um país que parecia não conhecê-lo ao declarar seus votos (contra e a favor) na sessão que admitiu o processo do impeachment, Maranhão agora é um novo e diferente problema para Temer: terá de ser controlado para garantir alguma coesão às iniciativas parlamentares do novo governo.
Aos amantes de teorias conspiratórias, a resultante tem um inescapável cheiro de "acordão". Temer vê sua área mais limpa, Cunha mantém o foro privilegiado se ficar apenas afastado e evita viagens à Curitiba do juiz Sergio Moro, o Supremo dá enfim uma resposta à sociedade civil mais organizada.
A posição do STF ainda terá de ser melhor escrutinada, já que a liminar de Teori diz respeito ao pedido feito em dezembro pela PGR para afastar Cunha, e os ministros haviam combinado de discutir outra ação, mais palatável juridicamente, que questionava a presença de Cunha como réu na linha sucessória da Presidência.
De todo modo, a corte só perdeu em imagem com a morosidade na análise do caso de Cunha, dando margem a críticas que vão além da habitual queixa sobre sua morosidade.
Em outubro de 2015, a Folha publicou uma charge genial de Jean Galvão, na qual Dilma e Cunha caíam juntos de um trapézio. O peemedebista sempre disse que a petista iria embora muito antes do que ele. Na prática, por ora empatou: a gravidade é inexorável.