Temer e a Cultura 22/05/2016
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Há um inconformismo evidente, especialmente nos ambientes antipetralhas, com a decisão do presidente Michel Temer de dar à Cultura, de novo, o status de “ministério”. Notem que não escrevo “recriar o Ministério”. A razão é simples: nada havia sido extinto, nada vai ser recriado.
A questão é rigorosamente esta: de status. Sim, essa mudança de nome implica custo a mais ou menos na estrutura. É irrisório em face da herança maldita deixada pelo PT e por Dilma. Bem, meus caros, o que vou dizer? Tenho, desde sempre, na vida pessoal e profissional, compromisso com o acerto, não com o erro.
E, quando alguém erra, acho que o moralmente correto é voltar atrás para fazer a coisa certa. Assim, penso que Temer faz bem em devolver à Cultura o status de ministério.
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Já escrevi aqui e reitero. Quem me irritava nesse particular era Dilma.
A mudança no setor elétrico se mostrava um erro? Ela dobrava a aposta.
As desonerações fiscais se mostravam um erro? Ela dobrava a aposta.
Baixar artificialmente a taxa de juros se mostrava um erro? Ela dobrava a aposta.
Dilma nunca recuava.
Dilma está fora da Presidência da República.
Não mudei de ideia
Considerei, desde o primeiro momento, um erro a mudança de status da Cultura. Ainda que tudo ficasse, na área, como está. Antevia — deixei isso escrito e comentei no meu programa de rádio — justamente a gritaria que se ouviu, com a adesão automática da imprensa à voz dos reivindicantes. Diante do erro, fazer o quê? Arrumar as coisas.
É simples. E muito complicado.
Todos sabemos que o Ministério da Cultura, em muitos aspectos, virou uma ação entre amigos. Estava — deve estar ainda — eivado de esquerdismo mixuruca. As mistificações ideológicas que se praticam por lá saltam aos olhos.
Acho fundamental que se proceda a uma radiografia da concessão de benefícios nesses 13 anos.
Notem: isso independe de a estrutura chamar “secretaria” ou “ministério”.
Precisamos, aí sim, é de pessoas competentes tocando a área, fazendo-o segundo critérios técnicos, não ideológicos.
“Está cedendo”
Aqui e ali — e me chegaram muitos protestos neste sentido —, leio coisas como: “Ah, ele cedeu aos petralhas”; “Ah, ele cedeu aos esquerdistas”; “Ah, ele cedeu à turma da Lei Rouanet”.
Vamos com calma! Não eram só artistas petralhas que estavam inconformados.
A decisão de mudar o status da Cultura, infelizmente, acabou juntando na reação petistas e não-petistas.
A todos pareceu, ainda que assim não fosse, um rebaixamento da área.
Mais: o ministério traz uma carga simbólica, já tratei deste assunto: foi criado por Sarney, no pós-ditadura, como sinal de um país mais humano e mais gentil. Sobreviveu a sete presidentes.
A interlocutores do presidente que conversaram comigo a respeito, eu disse: “Vocês estão cometendo um grande erro”.
Mamata continua?
Atenção! Temer ou qualquer outro não vão acabar com a Lei Rouanet. Temer ou qualquer outro não vão acabar com a Lei do Audiovisual. Temer ou qualquer outro têm a obrigação moral de ao menos tentar elevar a verba para a Cultura, ora bolas!
MAS TEMER OU QUALQUER OUTRO TÊM A OBRIGAÇÃO DE MORALIZAR A PASTA.
Vamos fazer assim? Secretaria ou ministério (voltará a ser ministério), cabe protestar se tudo por lá continuar como está hoje; se o Minc continuar a ser uma ação entre amigos; se os critérios de financiamento e incentivo continuarem a privilegiar ou medalhões ou pessoas ideologicamente alinhadas com partidos políticos.
Em suma: cabe protestar se o Minc continuar a ser um reduto do PT e do PCdoB.
“Então tem de ser um reduto tucano, democrata ou de direita”?
NÃO TEM DE SER REDUTO DE NINGUÉM!!!
Tem de ser tocado segundo critérios técnicos, amparados na Constituição.
A FUNÇÃO DO MINISTÉRIO DA CULTURA NÃO É COMBATER O PT E O PCdoB.
Aliás, essa não é a função do governo em nenhuma área. Sua tarefa é servir aos brasileiros. Se Temer tiver isso como norte, é claro que acabará combatendo o PT, já que o partido costuma cuidar dos seus próprios interesses e mandar a população às favas.
Sim, pela moralização da Lei Rouanet! Pela moralização da Lei do Audiovisual! Pela moralização dos critérios de incentivo à produção cultural! Pela desideologização da Cultura! Mas que assim seja como secretaria ou ministério. O nome não tem importância.
Quanto a ceder ou não ceder… Bem, isso, pra mim, nunca é questão de princípio.
Quem não cede nem para corrigir um erro é só um teimoso incompetente. Quem cede diante de um acerto é só um fraco.
No caso, acho que Temer cedeu para corrigir um erro.