Por mais rigor da Justiça 30/05/2016
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Sejamos francos: políticos com medo de serem presos conspiraram, sim, para derrubar a presidente Dilma. Um governo fraco, autor de graves erros, daria vez a um governo de “salvação nacional”, encabeçado pelo vice Michel Temer, capaz de tirar o país do atoleiro econômico.
E assim, suspeitos ou acusados de corrupção poderiam salvar-se mediante um acordo que freasse o avanço da Lava-Jato. Que tal?
Nada de estranho. Nem mesmo de absurdo.
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Os donos do poder, fossem eles políticos ou não, sempre souberam construir acordos e preservar a própria pele em detrimento da moral e da Justiça. Por extensão, também suas fortunas e posições na hierarquia social.
A história do país está repleta de exemplos. E magistrados jamais foram insensíveis a tais acordos. Pelo contrário.
É disso, em resumo, que dão notícia as gravações de Sérgio “Lobo de Wall Street” Machado, presidente da Transpetro nos últimos 12 anos e bem-sucedido caixa oculto para enriquecimento dos caciques do PMDB e financiamento de suas campanhas eleitorais.
Apetrechado com equipamentos de escuta e monitorado por agentes federais a pouca distância, Machado foi à luta e saiu laureado.
No período de uma semana, a divulgação das gravações atingiu três vistosos alvos – os senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL), e o presidente de honra do PMDB José Sarney (MA), ex-presidente da República.
Jucá perdeu o Ministério do Planejamento. Renan, a vergonha, se vestígio dela ainda lhe restasse. Sarney arranjou um triste fecho para sua biografia.
O Brasil vive “sob a ditadura” da Justiça, reclamou Sarney. Que aconselhou Machado a não meter advogados em tratativas para escapar da Lava-Jato.
Sarney tinha outro plano: acionar o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Cesar Asfor Rocha, amigo de Teori Zavaski, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Quem sabe Teori não ajudaria Machado?
A Asfor Rocha, Renan preferia o advogado Eduardo Ferrão, também amigo de Teori. Sarney e Renan garantiram a Machado todo o empenho para que seu caso não “descesse” à República de Curitiba, chamada de “Torre de Londres” por Jucá.
“É preciso estancar a sangria”, advertiu Jucá. E “a moça” imaculada (Dilma) carecia de forças para a tarefa. Temer teria certamente.
É mais correto dizer que Dilma “carecia de forças” para socorrer políticos em apuros do que de vontade. A Procuradoria-Geral da República quer investigá-la pela nomeação de um ministro sob o compromisso de votar a favor da libertação de empreiteiros presos pela Lava-Jato.
Segundo Sarney, a imaculada Dilma pediu a Odebrecht que pagasse no exterior despesa de sua campanha.
Por que em tantos diálogos gravados ou reproduzidos, políticos sugerem dispor de livre trânsito entre ministros de tribunais superiores? Alguns por fanfarronice. Outros porque têm de fato.
Não há julgamento puramente técnico. São homens e mulheres que julgam. E por mais que persigam um estado de isenção plena – e nem todos perseguem -, jamais o alcançam.
O STF mandou para a cadeia 25 dos acusados pelo escândalo do mensalão do PT, mas recusou-se a investigar a fundo a responsabilidade de Lula no episódio.
Desta vez, tudo indica que será mais rigoroso com os réus da roubalheira na Petrobras, sem condescendência com nenhum, seja por distração ou – muito pior - conivência. É o que se espera dele.