Mito: os alunos aprendem mais em turmas pequenas 05/06/2016
- Blog de Leandro Narloch - Veja.com
Quem revelou este mito foi o jornalista Malcolm Gladwell, o escritor de não-ficção que mais vende livros hoje em dia.
Em seu último livro, Davi e Golias, Gladwell revê o que consideramos vantagens ou desvantagens.
Vir de uma família de classe média, por exemplo, ajuda mais na formação de um jovem que nascer no berço esplêndido de uma família de bilionários.
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Do mesmo modo, é um erro acreditar que uma educação mais cara sempre é mais eficiente, ou que o aprendizado cresce à medida que as turmas diminuem.
Na última década, conta Gladwell, governos de um bocado de países ricos decidiram diminuir o tamanho das turmas escolares, e políticos ganharam votos prometendo turmas menores e um ensino público mais atencioso.
Só nos Estados Unidos, a iniciativa motivou a contratação de 250 mil professores adicionais.
Depois de vários anos de turmas pequenas, pesquisadores analisaram a eficácia da mudança.
E não encontraram nada, nenhum resultado relevante.
Só uma pequena parte dos estudos enxergou uma leve melhora nas notas dos alunos, mas outra parte concluiu o oposto.
O principal estudo comparou o desempenho de alunos de 17 países em turmas grandes e pequenas.
Concluiu que somente na Grécia e na Islândia houve uma melhora “não trivial” nas notas.
Em todos outros, os efeitos foram contraditórios (melhora numa disciplina mas piora em outra) ou pequenos demais para se levar em conta.
Entrevistando professores, Gladwell descobriu que muitos deles consideram turmas pequenas demais tão difíceis quanto as grandes demais.
Se nas salas com mais de 40 alunos o professor sofre para controlar a atenção, nas turmas com menos de 15 alunos há menos interação e diversidade de comportamento.
“Nas palavras memoráveis de um professor, quando uma turma fica pequena demais, os alunos começam a agir ‘como irmãos no banco de trás de um carro’. Simplesmente não há como as crianças birrentas escaparem uma das outras.”
Turmas maiores seriam especialmente benéficas, quem diria, para alunos com dificuldades.
A diversidade de uma turma grande alivia a barra desse tipo de estudantes, diz Gladwell.
Eles se sentem menos isolados ao encontrar semelhantes – colegas que façam as mesmas perguntas e lutem com os mesmos problemas.
Já uma turma pequena demais é mais hostil e propícia ao isolamento desse tipo de aluno.
Gladwell conclui que a relação entre qualidade do ensino e número de alunos em sala segue o gráfico de um U invertido.
Turmas muito numerosas não ajudam, assim como as pequenas demais.
O ideal seriam turmas médias, entre vinte a trinta alunos, capazes de combinar a diversidade de perfis com a atenção ao professor.