Ou a política acha resposta para a crise, ou a crise acha resposta para a política 06/06/2016
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
A semana começa quente, muito quente. Os grandes veículos de comunicação trazem detalhes do que seriam as respectivas delações premiadas de Marcelo Odebrecht — a de maior potencial explosivo —, Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e, claro!, Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e Gravador-Geral da União.
Sendo tudo como informam os repórteres, a gente tem de apelar a Camões: a firmeza está apenas na inconstância.
Uma boa notícia até aqui: se as acusações acertam em cheio figuras graúdas do PMDB, ninguém até agora tocou no nome de Michel Temer.
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A semana passada terminou com uma boataria dos diabos, plantada por petistas: a operação teria chegado ao presidente interino.
Até agora, não há sinais disso.
Sim, o PT sai ainda mais destroçado da nova safra de imputações.
Odebrecht
Marcelo Odebrecht acertou os termos de sua colaboração. Informa a VEJA que um grupo de até 50 executivos da empresa pode colaborar. Sendo como diz a reportagem de Daniel Pereira, Robson Bonin e Thiago Bronzato, o PT e Dilma viram cinza, Lula sai queimado, o PMDB se dá mal, 13 governadores e 36 senadores entram na berlinda e também a oposição fica em maus lençóis.
A presidente afastada seria a grande protagonista da narrativa de Marcelo e da apuração da Polícia Federal.
A PF já tem evidências de que uma conta de João Santana no exterior recebeu US$ 3 milhões da empreiteira. Outros US$ 22,5 foram repassados em dinheiro vivo.
A reportagem afirma que Marcelo já confirmou que isso tudo diz respeito a dinheiro de campanha não declarado.
Esse financiamento paralelo teria sido coordenado por Giles Azevedo e Anderson Dorneles, pessoas de estrita confiança de Dilma.
Mas a coisa iria mais longe.
Na lista da Odebrecht também estariam Romero Jucá, os atuais ministros Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Eduardo Alves (Turismo) e o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB.
Segundo Bela Megale e Mario Cesar Carvalho, da Folha, os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega ficam numa situação delicada.
O primeiro, apelidado de “Italiano”, aparece ligado a um pagamento irregular de R$ 6 milhões; Mantega, o “pós-italiano”, de R$ 50 milhões.
Entre 2008 e 2012, os pagamentos irregulares da Odebrecht ao PT teriam alcançado R$ 200 milhões.
Léo Pinheiro
Algumas dessas personagens também estão na delação de Léo Pinheiro. Nesse caso, a estrela é Lula, que, segundo o ex-presidente da OAS, era mesmo um lobista da empreiteira.
A VEJA afirma que o empresário vai confirmar que tratou da reforma do sítio de Atibaia diretamente com o ex-presidente e que a reforma do apartamento do Guarujá também contou com a sua anuência.
Só desistiu do empreendimento quando a coisa se tornou pública.
Léo ainda quebrou um galho para Rosemary Noronha, a amiga íntima de Lula, e arrumou um emprego para o seu marido.
A coisa não ficou no quase folclórico.
O ex-chefão da OAS contou ter doado dinheiro de forma ilegal para as campanhas presidenciais do PT de 2006, 2010 e 2014. E a propina teria sido negociada com quem?
Com… Guido Mantega e Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES.
Segundo a VEJA, Pinheiro também acusa Aécio — que seria beneficiário de recursos ilícitos advindos da construção do Centro Administrativo de Minas — e volta as baterias contra Jucá e Geddel (que já estariam na lista da Odebrecht), Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara.
As respectivas delações de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro ainda não foram homologadas por Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo.
Sabem o que isso significa?
Viveremos muito tempo ainda sob o signo da Lava-Jato.
Sem jamais tocar na independência da operação, que tem de seguir seu curso, a política terá de encontrar uma resposta para a crise, antes que a crise encontre uma reposta para a política, o que nunca é bom.
Afinal, em matéria de Lava-Jato, a gente tem sempre a impressão de que o pior ainda está por vir.