Muita faixa, muito cartaz, muito balão, muito vermelho – quase tudo produzido com verbas públicas –, mas faltou muita gente, que é o que realmente importa em manifestação popular.
O “dia nacional de protesto” contra o presidente interino Michel Temer, realizado na sexta-feira passada em 24 Estados e no Distrito Federal, mostrou o que verdadeiramente era: uma manifestação de militantes, razão pela qual não conseguiu levar à Avenida Paulista mais do que cerca de 30 mil pessoas (100 mil, segundo os organizadores), em contraste com as centenas de milhares de brasileiros que mais de uma vez desfilaram no mesmo espaço pedindo o impeachment de Dilma Rousseff.
Na capital paulista, o evento serviu também de palanque para Lula fazer campanha à Presidência da República em 2018.
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Em termos de público, os protestos estiveram muito abaixo da manifestação nacional promovida contra o impeachment de Dilma Rousseff, em 18 de março.
Mas as características desse tipo de evento foram rigorosamente observadas, a começar pela realização em dia útil, em hora e locais pelos quais circulam habitualmente cidadãos que transitam do trabalho para casa, com fornecimento de, pelo menos, transporte e farto material de propaganda aos recrutados para “defender a democracia”.
Por detrás dessa última manifestação “espontânea” estiveram, como de hábito, o próprio PT e os partidos nanicos a ele aliados, com o PCdoB; as organizações sindicais controladas pelos petistas, como a CUT e “movimentos sociais” treinados para invadir propriedades públicas e privadas, como o MST e o MTST.
Oficialmente, no entanto, esse protesto foi convocado por uma tal de Frente Brasil Popular, associada a uma certa Frente Povo Sem Medo.
No palanque da Avenida Paulista, Luiz Inácio Lula da Silva repetiu as frases de efeito de seu repertório populista, chegando a verter lágrimas em dois momentos: quando evocou a mãe e o sofrimento pelas injustiças que tem sofrido, principalmente por causa das notícias a respeito de seu envolvimento na Lava Jato:
“Mas eu não perdoo a atitude de vazamentos ilícitos. Sinceramente, não admito. Aquilo tinha como objetivo tentar execrar a minha imagem. E eu queria dizer a vocês: quanto mais provocarem, mais eu corro o risco de ser candidato a presidente”.
O chefão do PT não perdeu também a oportunidade de exaltar uma de suas realizações mais relevantes como presidente da República:
“É só olhar na cara deles que a gente vai perceber que os 300 picaretas que eu falei em 1994 (na verdade, foi em 1993) aumentaram um pouco neste Congresso de hoje”.
Foi, como se vê, modesto ao reconhecer que a prática fisiológica do toma lá dá cá, que elevou à condição de método político para garantir seu “presidencialismo de coalizão”, aumentou apenas “um pouco” o número de picaretas no Parlamento.
Não poderia ter faltado também durante os protestos de sexta-feira a demonstração do verdadeiro “espírito democrático” e respeitador da liberdade de imprensa por parte desses aguerridos militantes.
Em Palmas e Fortaleza, petistas tentaram invadir as instalações e depredaram as fachadas de duas emissoras de televisão afiliadas à Rede Globo, naquilo que a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) qualificou de “afronta à liberdade de imprensa e de expressão”.
Chamou a atenção também, durante os protestos do lulopetismo, o fato de nenhum representante das entidades e movimentos sociais ter apoiado a ideia da convocação de um plebiscito sobre a realização de eleições presidenciais antecipadas, proposta por Dilma Rousseff na semana passada.
Esse silêncio é orquestrado por Lula e pela direção do PT, que querem distância de tudo que possa favorecer a volta da presidente afastada, já que a maior preocupação dos petistas no momento é a própria sobrevivência política, o que implica apagar da memória dos brasileiros a infeliz ideia que Lula teve de bancar uma sucessora desastrada na política e inepta na gestão da coisa pública.