O professor Carlos Antonio Rocca é, seguramente, um dos maiores especialistas brasileiros no estudo da origem e aplicação de fundos financeiros no Brasil. A instituição que dirige, a CEMEC (Centro de Estudos de Mercados de Capitais), deve merecer, pela importância da sua análise, o maior suporte do sistema financeiro privado e público.
Ficamos procurando "grandes teorias" para explicar a perda de dinamismo da economia brasileira, submetida, a partir de 2012, a uma série de intervenções mal pensadas e pobremente executadas. Não adianta discutir.
A experiência mundial mostra que o desenvolvimento social sustentável é consequência não necessária (por isso deve ser objeto de politica distributiva) do crescimento econômico. A sociedade só pode distribuir, permanentemente, o que é produzido, o que eventualmente ganha de presente do mundo (que nunca é eterno) ou o que toma emprestado do resto do mundo (e um dia terá de devolver).
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Ela pode, se tiver juízo, mitigar a ausência da igualdade de oportunidades e sustentar a liberdade individual (os dois valores fundamentais da sociedade "civilizada") se construir mecanismos institucionais que garantam uma relativa harmonia entre a necessidade de investimento e a redução de desigualdade pelo aumento do consumo.
Não há "grande teoria" que estimule o investimento que é a base de tudo. O que funciona é repetir os mecanismos utilizados pelos países que cresceram e continuam a crescer: estimular o "espírito animal" dos empresários com: 1) perspectiva de crescimento; 2) taxa de juro real acessível com colaterais razoáveis no mercado e 3) segurança regulatória. O resto é "chantili"!
Por que não crescemos em 2015? Basta olhar para a Nota Cemec 02/2016, atualizada. Ela mostra o saldo consolidado do exigível financeiro de entidades não financeiras no Brasil, nos dias 31/12 de 2014 e 2015.
Em 31/12/2014, o saldo total era de R$ 6,81 trilhões, com o setor privado representando 52,5% do total e o setor público, 47,5%. Em 31/12/2015, o saldo havia crescido para R$ 7,64 trilhões, com o setor privado reduzido a 49,9% e o público aumentado para 50,1%. A diferença parece pouca, mas é, de fato, uma tragédia.
No fluxo, que é o que interessa, o crédito privado cresceu apenas 6,5% no ano, o que significa uma contração dada à taxa de inflação anual de 10,7%, enquanto o crédito enroscado e imobilizado do setor público cresceu 18,5%. Escondido pelo crescimento "médio" de 12,2%, o governo se apropriou de 72% do aumento do crédito! Com o setor privado no forno e o público na geladeira, destruiu-se 6% do PIB...
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*Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo.