Os ratos da gaiola 04/07/2016
- VLADY OLIVER - VEJA.COM
Já criei hamsters em casa. E doei-os de volta para loja quando a coisa simplesmente se tornou insuportável. Era um casal, que virou mais de 60 intrépidos curiosos a fugirem das inúmeras gaiolas que compramos, na vã tentativa de conter a turba insaciável.
Acontece que, bem alimentados e fagueiros, os minúsculos roedores vão parindo numa progressão avassaladora.
Precisam ser separados, pois brigam, pais tentam comer os filhos, mães trabalham feito mulas e são monogâmicas – o que não sabíamos e gerou um estupro em família que resultou na matriarca do bando atirando os filhotes de uma das crias para fora da gaiola e uma mal sucedida tentativa de salvá-los dando leite em seringas. Mas o caso é que, perdida a chance de um mínimo controle de natalidade, o que temos depois aponta para uma falência daquela sociedade por múltiplos motivos: violência, submissão, opressão dos maiores sobre os menores e tudo o mais.
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É o que explica a humanidade hoje, meus caros amigos. Passou do ponto. Esquizofrenou-se. Rendeu-se a uma multiplicidade de angústias, misérias, pobrezas, chiliques e crendices que não param em pé sem uma boa dose de vigarice.
Não sou conspiracionista. Em contrapartida, não sou crédulo. Acho engraçado existir todo tipo da caminhada sobre o mundo. Há os que correm, os que se arrastam, os que sofrem e os que simplesmente andam.
É para estes, em média, que o mundo é feito, mas há uma gigantesca arquitetura moral tentando nos convencer a parar e empurrar os desvalidos. Nada contra, se realmente desvalidos fossem. Em geral, são encostados. Burocratas. Amantes da falcatrua. Poetas do atraso.
Conheço deficientes de todos os tipos e posso afirmar que os que mais pesam no mundo são os deficientes morais, aqueles aos quais só falta mesmo vergonha na cara.
Se físicos pudessem mensurar a “influência dos planetas” em nossa vida cotidiana, ela com certeza seria muitas vezes menor que nossa própria auto-sugestão.
Nada contra quem é chegado num horóscopo, pois a auto-sugestão é a mesma.
O que estou dizendo é que tanto faz se existe um “complô mundial” pela instalação do comunismo no mundo ou se isso simplesmente é uma mentalidade resultante de nossa falência como sociedade planetária organizada. Dá no mesmo.
A pilhagem é a mesma; a acumulação de riquezas em detrimento da maioria absoluta da humanidade a mesma; a falta crônica de um pingo de bom senso de ambos os lados – os que têm e os que não têm – resulta mesmo num clima de beligerância e indecência jamais visto. Não sou tolo a ponto de dizer que precisamos nos desarmar mais para amar mais também.
Precisamos encontrar um equilíbrio possível, frente a uma absoluta incapacidade de oferecer tudo a todos simultaneamente.
Precisamos decidir – e rápido – quem terá o direito de sobreviver por aqui. Os ratos não param de parir. Só quando os devolvi para a loja é que o dono me disse que são muito apreciados pela colônia oriental que vivia por lá.