Terror no Rio não é para rir 21/07/2016
- Clóvis Rossi - Folha de S.Paulo
No ambiente de pouco entusiasmo com os Jogos Olímpicos do Rio, há uma boa possibilidade de que parte importante do público não dê atenção ou até ridicularize a prisão de 10 pessoas sob suspeita de que preparavam um atentado.
Afinal, o Brasil não tem um histórico de terrorismo, não é um país central no planeta, não participa das operações contra o EI (Estado Islâmico) na Síria e no Iraque nem tem uma comunidade muçulmana que emita sinais de radicalização.
Ainda assim, não convém fazer pouco caso da ameaça agora aparentemente desbaratada.
PUBLICIDADE
Vale prestar atenção ao aviso do diretor da CIA, John Brennan, feito no início do mês:
"À medida que aumenta a pressão sobre o EI [nos territórios que ocupa no Oriente Médio], julgamos que ele intensificará sua campanha de terror global para manter seu domínio sobre a agenda terrorista global".
A prisão dos suspeitos no Brasil coincidiu com reunião dos responsáveis por inteligência nos países que combatem o EI, na qual o eixo das discussões foi precisamente o "day after", ou seja, o que fazer agora que se considera relativamente iminente a derrota do grupo terroristas nos territórios que ocupa.
Se a perda de parte do terreno já é considerada a razão principal para os atentados recentes como o de Nice, é lógico supor que a perda total dará margem a ataques ainda mais intensos e espetaculares.
E não há nada mais espetacular, do ponto de vista dos terroristas, do que atacar uma festiva concentração de pessoas do mundo todo, como o é uma Olimpíada.
É sintomático que Helene Cooper pergunte, no "New York Times" desta quinta-feira (21), se a coalizão liderada pelos Estados Unidos não está ganhando a batalha (contra o EI no Iraque/Síria), mas "perdendo a guerra mais ampla?".
Os suspeitos presos no Brasil parecem amadores, incapazes de conduzirem a "guerra mais ampla" para um território, o Brasil, até agora imune a ela.
Mas o terrorista que matou 84 pessoas em Nice também parecia apenas um criminoso comum e só agora, uma semana depois do ataque, as autoridades francesas anunciam que ele preparara com cuidado o atentado e teve cúmplices.
É um perfil que combina com o que se anunciou dos presos no Brasil, o que permite classificar o fato como perigo real, claro e iminente.