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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Abstenção, brancos e nulos podem levar Lula ao 2º turno
27/09/2006 - Denise Bacoccina -- BBC Brasil



O erro no voto e a maior proporção de abstenção, votos brancos e nulos nas regiões Norte e Nordeste podem custar a reeleição no primeiro turno ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na avaliação de analistas.

Quando o presidente Lula liderava com larga vantagem, esses fatores não tinham muita importância, explicam, mas agora podem significar a diferença entre a vitória no primeiro turno ou o prolongamento da campanha até o fim de outubro.


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“Acredito que Lula pode perder de um a dois pontos por erro do eleitor”, diz o cientista político Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

Até o início da semana passada, as pesquisas mostravam uma vantagem superior a 10 pontos percentuais para Lula. Na pesquisa Ibope divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo neste domingo, esta vantagem caiu para 3 pontos. “Com essa diferença pequena na intenção de voto, o erro vai ter grande relevância nesta eleição”, diz Caldas.

Por enquanto, esta foi a única pesquisa a apontar uma margem tão pequena – a pesquisa Datafolha do dia anterior ainda mostrava uma diferença de oito pontos de vantagem para Lula. Mas já serviu para aumentar ainda mais a temperatura da última semana de campanha e fazer analistas e membros da campanha dos dois lados aguardarem ansiosamente as próximas pesquisas.

Embora a urna eletrônica tenha reduzido significativamente o total de votos inválidos por erro do eleitor, Ricardo Caldas acredita que numa disputa apertada como esta qualquer diferença pode ser importante.

Pelo perfil de renda e escolaridade mais baixas, Caldas avalia que a probabilidade de que o eleitor do presidente erre o voto é duas vezes maior do que a do eleitor do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

Redutos eleitorais

O cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria Integrada, acha que a vitória no primeiro turno corre risco porque as pesquisas estão subestimando os votos brancos e nulos, tradicionalmente em número maior na apuração das urnas do que o apontado pelas pesquisas.

Ele não acha que as pesquisas estão erradas. “Elas simplesmente medem o que as pessoas falam”, afirma.

Em princípio, os votos brancos e nulos beneficiam o candidato que está na liderança – eles não contam para o total, porque o número absoluto de votos necessário para ter maioria é menor. Mas neste caso eles jogam contra Lula porque são maiores justamente nas regiões Norte e Nordeste, redutos eleitorais do presidente.

“Se os eleitores dessas regiões votarem branco e nulo na mesma proporção das últimas eleições, estamos mais próximos do segundo turno. Embora este não seja o cenário mais provável”, afirmou Schmitt.

Ele lembra que a pesquisa do Datafolha divulgada sábado aponta para um total de 5% de intenção de votos brancos e nulos na média nacional e de 4% na região Nordeste. Na eleição de 2002, os brancos e nulos somaram 8,6% na média nacional e 12,6% no Nordeste. Nas últimas três eleições, a média era ainda maior, de 12,9%.

O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, que escreve um blog de análise política, também acredita que as pesquisas não estão captando o total de abstenção e votos brancos e nulos. Ele confia que, como esses fenômenos estão mais presentes na camada mais pobre da população – que vota mais em Lula –, o candidato do PT deve ter uma votação menor do que a mostrada nas pesquisas.

“O Datafolha diz que são 10% de brancos, nulos e indecisos. No dia da votação vamos ter 25%, no mínimo, de abstenção, brancos e nulos”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo, na segunda-feira passada, quando a diferença entre os dois candidatos ainda era de 10%. “Se o Alckmin conseguir tirar dessa diferença uns quatro pontos, cinco, a abstenção resolve o resto, e vamos para o segundo turno”, disse.

Os dados da eleição de 2002 mostram que, na média, a abstenção foi de 17,7% em todo o país. Mas foi muito acima em alguns Estados do Norte e do Nordeste: chegou a 25% na Bahia, 24% no Maranhão, 21% no Amazonas e 21,4% no Acre. No Sul e Sudeste, ficou abaixo da média: 13% no Rio Grande do Sul, 13% em Santa Catarina e 16% em São Paulo.

Com uma margem tão apertada, se uma parcela grande dos eleitores que declararam o voto em Lula não comparecer às seções, a situação apontada nas pesquisas pode não se verificar na prática.

  

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