Tiro ao alvo 04/09/2016
- Carlos Brickmann - www.chumbogordo.com.br
Dilma, enfim, é vista pelas costas. Não é o ideal, mas bem melhor do que quando era ela que nos olhava pelas costas.
Entretanto, não imagine que a inédita demissão em fatias de Dilma encerre a crise. Ao contrário, marca o início de outra: além da disputa no Supremo sobre o fatiamento, há a nova fase das denúncias e investigações, agora com mira direta em Lula. O ex-líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral, passou dois dias em Curitiba, depondo basicamente sobre Lula.
Aguarda-se a apresentação de três denúncias contra o ex-presidente, as três por corrupção e lavagem de dinheiro:
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1 – Por R$ 2,4 milhões oferecidos pela OAS em obras no apartamento do Guarujá e na guarda de objetos da Presidência que Lula trouxe com ele;
2 – Pelo pagamento de R$ 11,8 milhões à LISL, sua empresa de palestras;
3– pelas obras no sítio de Atibaia que também não é dele.
Está na moda: as denúncias serão fatiadas, esperando que a Procuradoria Geral da República retome a delação de Leo Pinheiro, da OAS.
E haverá mais: foi confirmado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo o envio das investigações do Ministério Público paulista sobre o apartamento triplex do Guarujá que não é de Lula para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Essas investigações atingem a esposa e um dos filhos do líder petista.
Há muita gente querendo matar a Lava Jato. E sabem direitinho por que.
Me inclua…
O inédito impeachment fatiado até pode ser aprovado pelo Supremo, onde oito dos onze ministros foram nomeados por Lula e Dilma; mas terá maus efeitos, beneficiando políticos que só não foram ainda cassados porque sabem se equilibrar, como Eduardo Cunha, ou utilizam seu prestígio para convencer aqueles dispostos a ser convencidos, como Renan Calheiros.
Se Cunha for cassado sem perder os direitos políticos, será eleito em seguida, e poderá dizer que voltou nos braços do povo, que o absolveu.
Se for punido pela via branda, ficará mais forte do que hoje. No caso, é melhor esquecer problemas passados e mergulhar juntos na geleia geral.
…dentro disso
O julgamento de Cunha está previsto para 12 de setembro. Ele tem cartas suficientes para conseguir um adiamento. Só que em seguida os parlamentares saem de férias para ajudar candidatos a prefeito e vereador, há eleições, negociações, festas de fim de ano e outro recesso.
Para Cunha, ótimo: ele mantém o mandato até 2017. Se o método-Dilma pegar, ainda ganha um cargo público, dentro da lei, para reforçar sua posição eleitoral.
E Temer?
O presidente da República falou grosso contra o impeachment brando de Dilma, disse que quem está no Governo tem de votar com o Governo.
Em seguida, viajou com um dos articuladores da traição, Renan Calheiros, e na chegada à China já dizia coisas bem mais suaves.
Alguns senadores do PMDB garantem que Temer sabia de tudo e tudo aprovou.
É possível: ninguém chega ao comando do PMDB sem jogar o jogo do partido.
Gente má
Gente maliciosa estranhou quando, ao ser informado de uma medida jurídica tão pouco ortodoxa, Lewandowski tenha sacado na hora anotações, cópias de leis, etc.
Existe gente que vê maldade em tudo.
Lewandowski contou como as coisas de fato aconteceram: no sábado, ele imaginou que os partidários de Dilma talvez propusessem o fatiamento do impeachment, e mergulhou, com sua equipe, no estudo da tese.
Pois não é que a intuição do ministro deu certo e o PT decidiu seguir o caminho por ele imaginado?
Jornada de glória
Em 1925, o Club Athletico Paulistano fez a primeira viagem de um time brasileiro de futebol à Itália.
Sucesso total: nove vitórias em dez jogos.
Mais: os europeus, nessa época, começaram a chamar os brasileiros – um timaço, com Araken e Evangelista atacando pela esquerda, e Friedenreich de centroavante – de reis do futebol.
Só que até agora não havia imagens em movimento desses jogos; e os gols de Friedenreich eram registrados apenas em fotos.
O Club Athletico Paulistano melhorou bem a situação: encomendou a Beto Duarte, filho do magnífico Orlando Duarte, um filme com as imagens disponíveis do time que apresentou nosso futebol aos europeus.
O filme "1925, o ano em que nos tornamos reis" foi exibido, para convidados, no dia 1º, numa bela festa no Club.
A propósito, há gols de Friedenreich. Ele seria hoje titular de qualquer time brasileiro.
Quem fez o que
O fatiamento do impeachment foi sugerido por José Eduardo Cardozo e aceito por Ricardo Lewandowski, aconselhado por Renan Calheiros.
O Brasil é um país rico em personalidades multiculturais: em que outro país um ministro do Supremo tem um conselheiro do nível de Renan Calheiros?