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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Fundos afundados
11/09/2016 - SUELY CALDAS - ESTADÃO

Enfim, os quatro maiores fundos de pensão do País começaram a ser tratados como devem: são casos de polícia. E desta vez os acusados não podem se queixar de perseguição do juiz Sergio Moro, já que a ação corre na Justiça de Brasília, que autorizou o bloqueio de R$ 8 bilhões dos investigados.

Este valor já denuncia: o que mais impressiona na Operação Greenfield, da Polícia Federal (PF), são as cifras bilionárias envolvidas e o longo tempo em que as fraudes aconteceram – por quase uma década – sem que os órgãos de fiscalização descobrissem e punissem os responsáveis.

A cumplicidade da parceria perversa entre intervenção do governo nos negócios dos fundos, empresas que pagam propina por investimentos, políticos e sindicalistas desonestos à frente dessas instituições e uma fiscalização fraca e submissa ao governo tem sido, ao longo dos anos, responsável pelo trágico prejuízo financeiro agora investigado pela Polícia Federal.


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Nos últimos anos Previ (do Banco do Brasil), Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa Econômica) e Postalis (Correios) acumularam rombos que, somados, chegam à incrível cifra de R$ 53 bilhões.

Maiores do País, os quatro reúnem 315 mil participantes e, nos casos da Funcef e do Postalis, os funcionários ativos e aposentados da Caixa e dos Correios tiveram o salário mensal reduzido para cobrir o rombo.

O próximo será o Petros. No enredo dessa história, não só a Previc (responsável pela fiscalização direta e subordinada ao ministro da Previdência) e a Comissão de Valores Mobiliários, que supervisiona operações financeiras, foram ausentes ou fizeram vista grossa nas operações fraudulentas.

As centrais sindicais e os sindicatos de trabalhadores dessas empresas, que deveriam estar nas ruas protestando e cobrando das diretorias dos fundos, se calaram, deixaram os filiados ao relento.

E por quê?

Simplesmente porque são parte envolvida, interessada e responsável pelo descalabro.

Pelas regras atuais, metade da diretoria é indicada pela empresa patrocinadora e metade pelos sindicatos que representam trabalhadores da estatal.

Portanto, dirigentes sindicais são também responsáveis pelas fraudes, o que levou alguns deles para a cadeia na Operação Greenfield.

Seria descarado alegar que desconheciam o risco, porque os negócios já estavam bichados quando consumados, entre eles a compra de papéis das dívidas da Venezuela e da Argentina (esta em pleno calote) pelo Postalis ou o investimento em debêntures da Universidade Gama Filho, que pouco tempo depois fechou as portas e deixou milhares de estudantes sem diploma.

Petros, Funcef e Previ perderam R$ 3,3 bilhões na aventura da Sete Brasil – empresa que forneceria sondas para a Petrobrás e está em recuperação judicial.

Já em 2003, início do governo Lula, três dos fundos investigados foram entregues a sindicalistas filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) e originários do Sindicato dos Bancários de São Paulo, na época dirigido por João Vaccari Neto, outro petista preso na Operação Lava Jato.

Sergio Rosa, que prestou depoimento à PF esta semana, virou presidente do Previ; para a Funcef foi Guilherme Lacerda, preso há dias no Espírito Santo; e Wagner Pinheiro para o Petros.

Os três atuavam juntos e concebiam ações de ajuda ao PT com o dinheiro dos fundos, como a ideia (que não foi adiante) de criar uma cooperativa habitacional ligada à Prefeitura de São Paulo, na época ocupada pela então petista Marta Suplicy, no modelo da Cooperativa dos Bancários dirigida por Vaccari Neto.

O Senado já aprovou, mas as centrais sindicais conseguiram empacar sua tramitação na Câmara dos Deputados, projeto que tenta profissionalizar a gestão e dificultar a nomeação de políticos e dirigentes sindicais para o comando desses fundos.

É um avanço, mas o projeto falha ao não endurecer na fiscalização. Um meio eficaz para frear dirigentes desonestos seria obrigar a Previc a pôr à disposição na internet os resultados financeiros de cada um deles, abrindo a chance para trabalhadores e aposentados das empresas fiscalizarem diretamente o patrimônio que lhes pertence.


  

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