Os círculos da Lava-Jato 26/09/2016
- VERA MAGALHÃES - ESTADÃO
Na semana passada, escrevi neste espaço que o longo e enfático preâmbulo feito pelo procurador Deltan Dallagnol quando Lula foi denunciado não era por acaso, uma vez que o Ministério Público estava preparando outras peças tendo o ex-presidente como alvo.
A nova fase da Lava Jato, que atinge o Ministério da Fazenda, faz parte dessa lógica.
Os investigadores dizem que, com a Arquivo X, a Lava Jato chega mais perto do “coração” dos governos de Lula e Dilma Rousseff.
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Além de Guido Mantega, outros personagens centrais do petismo devem aparecer nessa fase: Antonio Palocci, Erenice Guerra e Luciano Coutinho são alguns dos nomes citados por integrantes da força-tarefa.
A linha de apuração será mostrar que, assim como a Fazenda, a Casa Civil e o BNDES também eram usados para negociar pagamentos de empresários com negócios com o governo para o PT e caciques da legenda.
Os dois ex-ministros e o ex-presidente do BNDES já foram citados por delatores em fases anteriores da Lava Jato como interlocutores do partido.
Primeiro, a Lava Jato desvendou a participação de diretores de estatais, dirigentes partidários, empresários e políticos no petrolão.
Agora, ao avançar para sua infiltração também nos bancos públicos e na administração direta, quer comprovar a tese de que havia uma “propinocracia” destinada a perpetuar o PT no poder, tendo Lula no centro – como desenhado no já icônico infográfico exibido por Dallagnol na entrevista há duas semanas.
O X DA QUESTÃO 1
Eike Batista não teve a prisão pedida, mas a Lava Jato não vai poupá-lo.
A força-tarefa vai investigar a ligação do “senhor X” com políticos, sobretudo do PMDB do Rio.
Uma conta operada por ele no Panamá já está no radar.
O X DA QUESTÃO 2
Amigos de Eike lamentam que o empresário foi “ingênuo” e “mal orientado” ao depor sobre o encontro com Mantega e o pagamento de R$ 5 milhões ao marqueteiro João Santana. Ele estava certo de que seria tratado como testemunha.
COMUNICAÇÃO
A Secom se antecipou à ideia – que dificilmente vingará, aliás – de criar uma supersecretaria para cuidar da imagem do governo Michel Temer.
Na sexta-feira, os assessores de todos os ministérios receberam novas orientações: haverá um novo portal de internet para unificar as informações, as redes sociais dos ministérios serão supervisionadas pelo Planalto e mesmo o plano de gastos em publicidade será centralizado.
AGORA VAI?
O ministro Edson Fachin vai liberar até o fim do ano para a pauta de julgamentos do Supremo Tribunal Federal a denúncia contra Renan Calheiros (PMDB-AL), da qual é relator.
Renan foi denunciado por peculato e falsidade ideológica sob a acusação de ter usado um lobista de empreiteira pagar pensão a uma filha.
Fachin – que havia liberado o voto em fevereiro, mas recuou – não quer que Renan deixe a presidência do Senado sem ter a denúncia analisada.