Tiro Livre, Direto 16/10/2016
- Carlos Brickmann - www.chumbogordo.com.br
Antes da era dos mísseis teleguiados, os combates marítimos obedeciam a uma fórmula consagrada: primeiro, os tiros eram disparados aos quatro lados do inimigo (enquadramento do alvo), e as colunas d’água levantadas pelos projéteis indicavam o movimento do mar e orientavam a mira.
Davam também ao inimigo a chance de se render. O tiro seguinte era direto ao alvo, para afundá-lo ou pelo menos reduzir sua capacidade de combate.
É assim que a Justiça se aproxima de Lula: enquadrando o alvo.
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1- Na quinta-feira, Lula se tornou réu pela terceira vez, agora em Brasília. Acusações: tráfico de influência, organização criminosa (mais grave que a antiga formação de quadrilha), lavagem de dinheiro e corrupção passiva nos negócios financiados pelo BNDES em Angola.
2 – No mesmo dia, a Receita suspendeu a isenção tributária de 2011 do Instituto Lula por desvio de finalidade: o Instituto pagou despesas de Lula e de sua esposa. Isso quer dizer que a entidade está sujeita a pagar os impostos de que era isenta, corrigidos, mais multa de uns R$ 2 milhões.
3 – Lula é réu duas vezes em Curitiba: por corrupção e lavagem de dinheiro no apartamento do Guarujá e por tentar atrapalhar as investigações sobre a Petrobras. Nos dois casos deve ser julgado por Sérgio Moro.
Se sofrer duas condenações, Lula não poderá se candidatar em 2018. Se for condenado num caso, e o recurso for rejeitado, vai para a prisão.
DO PALÁCIO À CADEIA
Crime pelo qual foi condenado o senador Gim Argello: vender proteção na CPI da Petrobras (entre os compradores, confessos, os empreiteiros Léo Pinheiro, da OAS, e Ricardo Pessoa, da UTC).
Pena determinada pelo juiz Sérgio Moro: 19 anos de prisão.
Curiosa figura, Gim Argello. Rico, tornou-se suplente do candidato Joaquim Roriz. Foi morar na Península dos Ministérios.
Acordava cedo, vestia o agasalho e só saía quando a ministra-chefa da Casa Civil, Dilma Rousseff, iniciava sua caminhada.
Por acaso, seus caminhos se cruzavam todos os dias. Caminhavam juntos, ficaram amigos, Dilma o ouvia.
Quando Joaquim Roriz renunciou, o suplente Gim já assumiu como político poderoso.
Subiu rápido, caiu rápido: as delações premiadas o jogaram no olho do furacão.
Em 12 de abril foi preso. E agora, sabe-se lá quando sai.
PRESO FICA PRESO
A mudança está sendo pensada pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, a pedido do presidente Michel Temer: endurecer o cumprimento de penas de prisão.
Hoje, um condenado pode ser solto depois de cumprir 1/6 da pena – o que significa que um condenado a 5 anos pode ficar livre após onze meses.
A ideia é aumentar o tempo mínimo de prisão para metade da pena.
E seria ótimo reestudar as “saidinhas”, libertação de presos por um período curto.
Algo como a autorização de saída de Suzanne von Richthofen para o Dia dos Pais: ela foi condenada por matar pai e mãe.
NOVA FORÇA
O encontro entre Michel Temer e Fernando Henrique teve outros temas além de amenidades.
Ambos começaram a conversar sobre uma aliança eleitoral entre PMDB e PSDB – nas condições atuais, uma composição imbatível.
Mas não é simples: há rivalidades estaduais, haverá guerras por posições no partido.
A disputa entre Renan Calheiros e Eduardo Cunha por pouco não impediu o impeachment.
O PSDB já tem três candidatos à Presidência da República, os três de sempre, os três inconciliáveis.
E, só para dar uma ideia do clima entre os tucanos, a vitória na maior cidade do país, no primeiro turno, gerou mais divergências do que festas.
FORÇA CRESCENTE
Aos poucos, cresce a aprovação do presidente Michel Temer. Entre agosto 921%) e setembro (30%), a alta foi de nove pontos percentuais.
A rejeição a Temer caiu no mesmo ritmo: de 68% em agosto para 60% em setembro.
A pesquisa foi realizada pela Ipsos entre 6 e 16 de setembro, em todo o país.
Temer tem muito a crescer: primeiro, porque obteve uma grande vitória política num tema complexo, a imposição de um teto ás despesas do Governo; segundo, porque ainda é pouco conhecido pela população; terceiro, porque está tratando agora de temas controversos, em que a população é majoritariamente contrária, mas metade dos entrevistados nunca ouviu falar de reforma da Previdência nem das leis trabalhistas.
Trata-se, portanto, de uma batalha de comunicação – e quem tem verbas mais abundantes para o, digamos, trabalho de convencimento?
BOB NOBEL
Robert Zimmerman, ou Bob Dylan, esplêndido músico americano (Blowing in the Wind, Like a rolling stone), ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2016.
E ainda bem que ainda desta vez o premiado não foi brasileiro.
Diante do que mostrou a Lava Jato, nosso Nobel seria Safadão.