Tragédia anunciada 26/10/2016
- O ESTADO DE S.PAULO
Se havia dúvidas sobre a irresponsabilidade das invasões de escolas públicas de ensino médio, como forma de protesto contra a medida provisória (MP) que flexibiliza o currículo desse ciclo educacional e contra a PEC que limita os gastos públicos, elas foram desfeitas com o trágico assassinato de um adolescente de 16 anos por um colega de 17 anos num colégio estadual de Curitiba que está ocupado há mais de 20 dias.
O homicídio foi causado por uma discussão, depois que ambos consumiram drogas. Isso dá a medida do que vem ocorrendo no interior das quase mil escolas públicas invadidas em todo o País, sob forte estímulo de partidos de esquerda e facções radicais.
Horas depois da tragédia, advogados “voluntários” que assessoram os invasores acusaram o governo paranaense de ter incitado a violência contra as invasões e de ser o responsável indireto pelo assassinato.
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Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) acusaram as autoridades paranaenses de aproveitar um fato isolado para “criminalizar os movimentos sociais”.
Em resposta, o governador Beto Richa afirmou que as invasões “ultrapassaram o bom senso e a razão”.
O assassinato ocorreu dias depois de a Ubes ter divulgado, em seu site, um manual de estímulo às invasões, com o objetivo de expandir o que seus dirigentes chamam de “primavera secundarista”.
Entre outros absurdos, o manual alega que os invasores têm o direito de não perder o ano letivo por falta.
“Se o Estado pode mudar o calendário do ano letivo para as Olimpíadas, ele pode também reorganizar o calendário por conta das greves e ocupações”, diz o manual.
Numa leitura enviesada do artigo 5.º da Constituição, que trata das garantias fundamentais, o manual afirma que as invasões de escolas públicas são formas de livre manifestação que em hipótese nenhuma podem ser reprimidas.
“Quando estudantes ocupam suas escolas, ou mesmo espaços públicos, essa cláusula constitucional garante que os limites não sejam ultrapassados por invasão ou violência policial.”
Na lógica do manual, invasões promovidas por grupelhos de estudantes mesmo contra a vontade da maioria são legítimas, enquanto ações policiais no cumprimento de ordens judiciais de reintegração de posse de prédios públicos são sempre ilegítimas.
Igualmente, pais e professores simpáticos às “causas” dos secundaristas têm livre ingresso nas escolas ocupadas, enquanto pais e docentes que exigem a retomada das aulas têm a entrada vedada por invasores – o que fere, flagrantemente, o direito de acesso a um espaço que é público.
Para manter as escolas invadidas durante 24 horas e evitar que o cansaço estimule os estudantes a voltar para casa, o manual prevê uma agenda de atividades, como saraus, oficinas, palestras e apresentações culturais.
Também sugere a realização de aulas abertas, proferidas por professores contrários ao governo federal, à MP da reforma do ensino médio e à PEC 241.
Lembra, ainda, que “o tempo gasto numa ocupação pode servir de aprendizado ao pautar temas como diversidade de gênero, protagonismo juvenil e até mesmo a construção de um ensino mais democrático que dialogue com a realidade da juventude brasileira”.
Palavreado à parte, a realidade que tragicamente emergiu das invasões de escolas em Curitiba envolve intolerância, consumo de droga, homicídio e porte de arma branca, fatos que os partidos de esquerda e as facções radicais que apoiam a “primavera secundarista”, de forma tão esperta quanto imoral, relegaram para segundo plano após o assassinato do adolescente de 16 anos.
Tão dramática quanto essa morte é a indigência intelectual dos líderes dessa pantomima chamada de “primavera estudantil”.
Em vez de recorrerem a argumentos sólidos, lógicos e plausíveis, o máximo de que dispõem são bordões.
O que foi colocado pela Ubes em seu site, tirado de um vocalista de uma banda de rock, dá a dimensão do nível desse pessoal:
“Eu me organizando posso desorganizar; eu desorganizando posso me desorganizar”.