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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Familiares descobrem um livro inédito de Santos Dumont
23/10/2006 - Agência Estado e Valor



Alberto Dodsworth Wanderley, sobrinho-bisneto de Santos Dumont, encontrou, em meio a uma coleção de papéis velhos, um livro inédito escrito de próprio punho por Alberto Santos Dumont. A obra revela detalhes que podem revolucionar a forma como os historiadores entendem os métodos de trabalho do célebre aeronauta.

O livro não tem nome - é uma coleção de artigos extensos, aproximadamente uma dúzia, que foram escritos ao redor de 1902. ¨Não há data nos papéis, mas a história vai até o Prêmio Deutsch, que Santos Dumont ganhou em outubro de 1901¨, contou Alberto Dodsworth Wanderley, sobrinho-bisneto do inventor, que está de posse dos originais.


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Misturando dados de sua própria trajetória aos conhecimentos que tinha da arte da navegação aérea e suas ciências correlatas, Santos Dumont oferece lampejos sobre suas inspirações e seus métodos de trabalho.

¨Até hoje, os estudiosos pensavam que Santos Dumont trabalhava em seus inventos de forma muito intuitiva¨, diz o físico Henrique Lins de Barros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, um dos maiores especialistas sobre a vida e a obra do aeronauta brasileiro. ¨Este manuscrito revela muito do conhecimento por trás desse trabalho. O grau de informação científica que Santos-Dumont demonstra ter aqui mostra que ele não estava trabalhando por intuição, tateando às cegas - ele sabia exatamente o que estava fazendo.¨

Obra audaciosa

Ao escrever esses artigos, Santos Dumont claramente tinha por objetivo redigir a obra definitiva sobre o vôo. No primeiro capítulo, ¨Como me tornei um aeronauta¨, o inventor relata o que o levou a perseguir a improvável carreira. Estabelecido seu interesse pelo tema, ele passa a costurar tudo que havia para conhecer sobre a história do vôo humano até então - a começar pela mitologia. O segundo capítulo (¨Aerostação mitológica¨) recupera até mesmo a velha narrativa grega de Ícaro e Dédalo, que teriam construído asas artificiais para fugir do labirinto de Creta.

A partir daí, ele narra os experimentos dos irmãos franceses Montgolfier, que teriam realizado os primeiros vôos tripulados de balão. ¨É incrível a sensibilidade de Santos-Dumont, ao imaginar e descrever Montgolfier deitado e olhando para as nuvens¨, diz Wanderley. ¨Há trechos belíssimos, ele tinha um jeito muito especial de escrever.¨

Entremeado por dados científicos que denotavam todos os conhecimentos do inventor, Santos Dumont conclui narrando a evolução do campo até chegar a seus próprios esforços, que culminaram com a vitória no Prêmio Deutsch - tido como o marco de conquista da dirigibilidade dos balões.

Por alguma razão misteriosa, esse material jamais foi publicado. Pouco tempo depois, em 1904, Santos Dumont lançaria seu primeiro livro autobiográfico, ¨Dans l´air¨ (traduzido para o português como ¨Os Meus Balões¨). Ele ainda lançaria outra autobiografia, em 1918 (¨O que Eu Vi, o que Nós Veremos¨), e escreveria um terceiro livro (nunca publicado, mas já conhecido pelos historiadores), ¨O Homem Mecânico¨, em 1929.

Letra miúda, em francês

¨Na realidade, é um monte de papel, numerado sequencialmente, de 1 a 312¨, diz Alberto Dodsworth Wanderley, ao mencionar a descoberta do manuscrito. ¨Por isso tivemos a noção de que se tratava de um livro.¨

O material, escrito em francês e a mão, não está completo. Pela numeração, percebe-se que algumas páginas estão faltando. ¨Mas é muito pouco, coisa de 15 páginas¨, diz Wanderley. ¨O que é impressionante, se levarmos em conta que são documentos de mais de cem anos, que até pouco tempo eu nem sabia que existiam.¨

O livro e outros papéis estavam originalmente na casa de Santos Dumont em Petrópolis, ¨A Encantada¨, de onde foram tirados quando da morte do inventor, em 1932. O material ficou perdido por muitos anos, até ser ¨redescoberto¨ num baú de vime no porão de uma das casas da família, no bairro do Flamengo, no Rio. Desde então, o acervo¨ passou às mãos de Nelson Freire Lavanère Wanderley e sua esposa, Sophia Helena Dodsworth Wanderley - os pais de Alberto.

Boa parte desse material foi catalogada cruamente por Nelson ao longo dos anos. Ele dividiu as fotos e os inúmeros recortes de jornal em cinco volumes encadernados, por ordem cronológica. Já previamente trabalhado, esse pacote de documentos foi recentemente doado ao Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (Cendoc), que está organizando o acervo em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro.

Com a morte de Sophia Helena, Alberto passou a ser o responsável pelos materiais. A doação dos cinco volumes preparados por seu pai, também morto, já estava acertada, mas havia outros papéis que estavam numa gaveta e não chegaram a ser catalogados. Entre eles haviam duas pastas - uma com os originais do livro, outra com uma tradução feita por Sophia Helena e revisada por Nelson.

Alberto no momento trabalha na digitação e na redação de notas de pesquisa da tradução dos originais. ¨Completei mais ou menos um terço¨, diz ele. Assim que concluir o trabalho, passará a procurar uma editora interessada em publicar o livro.

Popstar da aeronáutica

Na época em que escreveu o livro ¨perdido¨, Santos Dumont experimentava o auge da fama - que, ao contrário do que a maioria pensa, ocorreu por seus trabalhos com balões, não com aviões. O inventor brasileiro foi o primeiro a combinar a tecnologia dos balões de hidrogênio (gás altamente inflamável) à dos motores movidos a petróleo (que na época não eram muito confiáveis e soltavam muitas faíscas).

Graças a isso, e contrariando os muitos inventores que o classificavam como maluco, ele conseguiu desenvolver os primeiros balões realmente dirigíveis. O sucesso foi coroado em 19 de outubro de 1901, quando Santos-Dumont conquistou o Prêmio Deutsch - pequena fortuna de 100 mil francos que seria dada ao primeiro que, com um dirigível, partisse de Saint Cloud, nos arredores de Paris, contornasse a torre Eiffel e retornasse ao ponto de partida, percorrendo os 11 quilômetros em até 30 minutos.

Com a vitória, Santos Dumont, aos 28 anos de idade, foi definitivamente catapultado para a celebridade. Passou a ser ainda mais assediado pela imprensa (que já acompanhava as peripécias do inventor desde o fim dos anos 1890), recebeu cartas de outros grandes inventores, como Thomas Edison (1847-1931) e Guglielmo Marconi (1874-1937), e foi cortejado por grandes autoridades, como Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, que o recebeu na Casa Branca em 1902.

Durante a visita aos ianques, naquele ano, Santos Dumont também esteve com Edison, e no livro ele reconta sua conversa com o inventor americano. Esse episódio, um dos últimos mencionados na obra inédita, também ajuda a datá-la.

BC lança moeda em homenagem a Santos Dumont

A moeda comemorativa ao Centenário do vôo do 14 Bis, do brasileiro Alberto Santos Dumont, será lançada nesta segunda-feira. O Banco Central (BC) vai aproveitar a solenidade militar em homenagem ao Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira (FAB), na Base Aérea de Brasília, que será realizada às 10 horas.

Em prata 925, pesando 27 gramas, a moeda não terá valor de monetário para troca ou ¨ poder liberatório ¨ , no jargão da autoridade monetária. Custará R$ 105,00 e será direcionada a colecionadores, com o objetivo de ¨ difundir a história e a identidade nacional ¨ , a exemplo de outras moedas já cunhadas.

Aliás, o BC vai exibir durante o evento parte do acervo do Museu de Valores, com cédulas moedas, medalhas e condecorações antigas que também homenageiam o ¨ pai da aviação ¨ .

A moeda terá a imagem do 14 Bis de um lado, acima da inscrição ¨ centenário do vôo do 14 Bis ¨ . Do outro lado, uma estampa do inventor, Santos Dumont e o valor de R$ 2, com a reprodução da assinatura do aviador.

O Departamento do Meio Circulante do BC encomendou, a princípio, duas mil unidades da moedinha. Se houver demanda, a cunhagem total pode chegar a 15 mil.

  

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