Sinopse da ópera (bufa) 20/11/2016
- DORA KRAMER - O ESTADO DE S,PAULO
Um Estado que em seis anos aumenta em 70% o contingente de funcionários para, adiante, não ter como lhes pagar os salários gasta por causa de arrecadação presumida, com sucessivos governos levando um baile da bandidagem com a qual políticos trocam relações amistosas por votos nos territórios dominados, onde policial de alta patente confessa a seus pares que tem medo de chegar à noite ao Aeroporto Tom Jobim e enfrentar o trajeto pela Linha Vermelha por causa dos tiroteios, francamente o Rio não poderia estar em situação diferente.
Tido como síntese do Brasil, sede da cidade (realmente) maravilhosa, o Rio é um retrato dos males que acometem o País desde Cabral (com trocadilho): corrupção a rodo, inépcia administrativa, irresponsabilidade nos gastos, insegurança pública, carência de espírito público e excesso de ganância privada.
Nem todos os Estados reúnem todas essas características, mas raro (inexistente?) aquele onde não esteja presente ao menos uma delas.
PUBLICIDADE
Se houver é a famosa exceção que confirma a regra liderada pela administração federal como vem revelando a tardia, porém bendita, aliança entre Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário.
Uma hora essa coisa iria explodir. O padrão perverso que atrela o País ao atraso iria estourar.
Provoca surpresa a prisão de dois ex-governadores, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho. Surpreendente, contudo, é que tenham - cada qual o seu setor - pintado e bordado durante tanto tempo sem serem importunados.
Garotinho é velho freguês da Justiça Eleitoral em decorrência dos métodos para obtenção de votos. Está preso por isso, compra de votos.
Já Cabral, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, dá sinais exteriores de riqueza incompatível com os ganhos de suas funções desde que era deputado estadual.
Como governador, abusou.
De tudo: do excesso de confiança na “proteção” de Lula e Dilma, do deslumbramento, das relações impróprias com fornecedores do governo, da desfaçatez.
Abusos que a Lava Jato revela terem sido corriqueiros e abrangentes desde sempre, embora não tão explícitos como nos governos do PT e aliados.
A lamentar os prejuízos, materializados de maneira cruelmente contundente no Rio e demonstrados à farta na dilapidação da Petrobrás.
Mas a celebrar o início do desmonte do modelo.
Não se trata de festejar a perda de liberdade de quem quer que seja.
Melhor que não houvesse motivo para tal ou que ocorressem como casos isolados.
Evidente que o processo é sofrido e humilhante para quem é atingido, mas não dá para ser de outra forma.
Até daria, se políticos, empresários, funcionários e quem mais se envolver em ilegalidades pensassem antes de fazer em uma máxima do óbvio: as consequências vêm depois.
Estão em curso e, por isso, sofrendo ameaça de serem abatidas em pleno voo por um Poder Legislativo eivado de suspeições e localizado na rabeira do ranking de confiabilidade da população nas instituições brasileiras.
Câmara e Senado reagem - cada Casa a seu modo - contra o avanço das investigações, tentando aprovar leis que restrinjam a atuação notadamente do Ministério Público, cuja independência foi um dos principais avanços da Constituição de 1988.
O Congresso está diante de uma escolha: fica do lado certo ou estaciona do próprio lado e, com isso, se posiciona contrariamente à vontade da Constituinte que elaborou a Carta atual.
Contra a vontade daquele colegiado que há quase 30 anos estabeleceu um novo marco legal no Brasil, onde não cabe a impunidade e que finalmente começa a ser posto em prática.
A opção é de suas excelências: podem escolher ficar ao lado do cidadão ou contra ele.