O gravador do índio na sexta-feira gorda 25/11/2016
- Blog de Mario Mendes - Veja.com
Então é Black Friday e o que você comprou? Não comprei nem pretendo comprar nada, mesmo porque nunca entendi a euforia desses eventos do tipo estouro de boiada. Também não é porque o está mais barato que se vai correr para adquirir o que quer que seja.
Aliás, até hoje não sei de onde veio essa história. Um dia acordei e já era Black Friday.
Com todo mundo irado, protestando e problematizando porque, afinal, tratava-se de outra armação capitalista ianque e por aqui se tornou uma desculpa para se vender tudo “pelo dobro da metade do preço” – tá na hora de aposentar essa piada – porém comprando como se não houvesse amanhã.
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Só que essa Black Friday veio com brinde. Além das ofertas tentadoras – de presilha de cabelo a cristais e prataria – chegou a notícia da queda do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que estava balança mais não cai desde o final da semana passada, quando o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, o bonitão da Esplanada, o acusou de pressioná-lo para liberar uma obra em Salvador.
Detalhe crucial que evitou do episódio acabar em pizza, foi o fato de Calero ter gravado tanto a conversa com Geddel quanto a que teve com Temer, quando relatou o ocorrido ao presidente – que se fez de morto.
O que me fez lembrar imediatamente do hoje esquecido Mario Juruna (1943-2006), até hoje o único deputado federal indígena do país.
Nos anos 70, o índio xavante – que viveu em uma aldeia isolada no Mato Grosso até os 17 anos – se tornou famoso por percorrer Brasília conversando com os políticos sempre com um gravador a tiracolo “para registrar tudo o que branco diz”.
Afinal, ele havia aprendido que o homem branco raramente cumpria sua palavra.
Em tempos analógicos, o Gravador do Juruna – que virou título do livro que o deputado publicou em 1982 – dava o que falar, era um prato cheio para os humoristas de plantão e uma espécie de grilo falante da política nacional.
Não sei se Calero se inspirou no político indígena e também não engrosso o coro dos que já o elegeram como herói nacional dessa sexta-feira gorda – inclusive muita gente que o condenava por ser ministro do golpe.
Apenas declaro ter me divertido bastante com a história toda.
E como no Brasil sempre podemos evitar a pizza, porém jamais escapar do Carnaval, agora cante comigo o velho sucesso de Carmen Miranda: “Cai, cai, cai, cai/Eu não vou te levantar…”