Analistas acreditam que Lula vai adotar políticas semelhantes às do primeiro mandato
Representantes do mercado financeiro internacional ouvidos pela BBC Brasil não acreditam que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá promover reformas econômicas radicais no segundo mandato nem crêem no suposto ¨fim da Era Palocci¨.
No fim de semana, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, decretou o fim da ¨Era Palocci no Brasil¨, em menção à política do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que qualificou como sendo de ¨taxas baixas de crescimento, preocupação neurótica com inflação, sem pensar em distribuição de renda e crescimento¨.
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Os comentários de Genro sinalizam para uma disputa interna no governo entre adeptos de uma linha desenvolvimentista, compartilhada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seguidores de uma política de que prioriza a estabilização, defendida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
¨Genro defendeu o grupo desenvolvimentista, adepto de um crescimento maior. Provavelmente veremos algum crescimento mais acelerado. Mas não será grande, porque o mundo está passando por uma tendência oposta, de desaceleração do crescimento¨, afirma Ricardo Amorim, diretor de estratégias de investimentos para a América Latina do WestLB.
Segundo Tom Trebat, ex-diretor da divisão de América Latina do Citigroup e atual diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, ¨para o bem ou para o mal, está claro para os investidores que a linha seguida será a mesma. Mantega é um Palocci ligeiramente modificado. O Brasil não deverá adotar nem uma postura abertamente desenvolvimentista, nem uma tendência rigorosa a ponto de priorizar uma taxa de crescimento baixa¨.
De acordo com Trebat, ¨o mercado espera uma manutenção do status quo, da política de metas de inflação e superávit primário como pilares básicos da política econômica¨.
Cabo eleitoral
No entender de Nuno Camara, economista-sênior para a América Latina do banco Dresdner Kleinwort, ¨em vez de colocar a culpa no Banco Central, já que ele foi o principal cabo eleitoral do presidente, ao trazer a inflação para baixo e aumentar o poder aquisitivo dos pobres, é importante combater o problema tributário e o problema fiscal. Este é o cerne da questão¨.
O economista acredita que o governo poderá até contemplar essas áreas, mas não deverá se aprofundar nelas, preferindo apostar em ¨pequenas reformas, mas que ofereceriam certa calma junto ao mercado e as agências de risco¨.
¨Uma dessas seria uma sinalização de que haverá um teto para os gastos primários, que vem crescendo de forma assustadora¨, diz Camara.
Greg Anderson, estrategista de moedas estrangeiras do banco ABN-Amro, em Chicago, crê que ¨veremos políticas semelhantes às do primeiro mandato¨.
Ele acrescenta: ¨Lula poderá até adotar uma postura mais desenvolvimentista, mas o mais provável é a continuidade, com uma política macroeconômica ortodoxa¨.
No entender de Anderson, o presidente se sentiria mais inclinado a seguir com a atual política econômica, porque ¨o mercado recompensou o Brasil com uma moeda estável e um risco-país baixo¨.
Surpresas positivas
De acordo com Ricardo Amorim, o mercado não vê grandes chances de que grandes reformas ocorram, mas acrescenta que ¨justamente por isso, porque as expectativas são baixas, as reformas que ocorrerem serão surpresas positivas¨.
Amorim diz acreditar que ¨será feita alguma coisa na parte tributária¨. ¨É uma possibilidade, graças à vitória consagradora de Lula. Ele poderá ficar mais à vontade para mudar essa política de tributação, que é a mais elevada da América Latina¨.
Nuno Camara crê que a vitória folgada de Lula no segundo turno poderá viabilizar a implantação de mudanças estruturais.
¨Foi importante que Lula tenha saído fortalecido. Nos últimos três anos, ocorreu muita picuinha política entre governo e oposição. Agora, talvez o presidente tenha mais facilidade para negociar uma coalizão e conseguir que reformas importantes sejam implantadas¨, afirma.