Gerdau é o ¨segredo¨ de Lula 31/10/2006
- Kennedy Alencar - colunista da Folha Online
Após quase quatro anos de poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprendeu muito sobre segredos e articulações políticas. O sigilo mais bem guardado nos últimos dias foi a possibilidade bastante concreta de o empresário Jorge Gerdau Johannpeter integrar o primeiro escalão. Mais: ser opção real para a Fazenda.
Numa conversa reservadíssima na semana passada, Lula disse que deseja ¨mudar muito¨ o governo e que ninguém estava garantido no cargo. Apesar de insistentemente questionado nas entrevistas pós-eleição a confirmar ministros, Lula desconversou. Não confirmou ninguém.
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É um óbvio sinal de que está refletindo. E está certo. Reeleito com poderoso cacife (60,83% dos votos válidos) e livre das amarras de quem precisa ser candidato, pois não poderá concorrer em 2010, Lula tem dito que não pretende errar na montagem do segundo governo. Deseja surpreender positivamente.
Para não passar por desinformados, alguns ministros e aliados de Lula dizem que ele não soltou uma palavra sobre a composição da futura equipe. Acredite quem quiser. Lula tem é falado pouco e com poucos.
Gerdau, por exemplo, é ¨um alemão, um galego simples¨, nas palavras de próprio Lula, que gosta muito dele. Gerdau é um dos maiores empresários do país e está disposto a integrar o governo. O presidente avalia que deram muito certo escolhas como as de Luiz Fernando Furlan para o Desenvolvimento e de Roberto Rodrigues para a Agricultura (apesar de este já ter deixado a pasta). Gerdau seria uma aposta parecida.
Além de possibilidade para a Fazenda, ele é alternativa para a Previdência e o Desenvolvimento, por exemplo. Lula gostou dos planos e das idéias do empresário sobre melhoria dos gastos públicos e de um choque de gestão na máquina oficial com uma pitada de iniciativa privada. Deve arrumar uma boa vaga para ele no primeiro escalão.
A armadilha da vaidade
Muito bem-avaliada por Lula, pessoa com força no governo, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) cometeu um erro no domingo. Deu eco à declaração do colega Tarso Genro (Relações Institucionais) de que chegara ao fim a ¨era Palocci¨.
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho caiu devido ao caseirogate. Se dependesse da gestão da economia, teria ficado no cargo. É um erro achar que a inflexão na política econômica, com mais gastos públicos em 2006, começou à sua revelia. Era plano de Palocci para reeleger Lula.
O presidente sabe disso. E avalia que nenhum dos atuais ministros têm a habilidade e a competência de Palocci. Lamenta-se de tê-lo perdido. Teme que Guido Mantega (Fazenda) não esteja à altura da tarefa de promover um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da ordem de 5% ao ano.
Inábil politicamente, Dilma chega a ser grosseira com colegas de ministério. No domingo, cometeu um erro, anotado na agenda de Lula. Ao tentar ditar o rumo da política econômica publicamente, falou de uma área que não é de sua competência direta.
Apesar de Tarso ter pagado o mico, sendo desautorizado por Lula publicamente, o presidente não gostou de ver uma ministra tão querida cair na armadilha da vaidade.
Menos, presidente
Lula continua pouco cordato com a oposição. Diz que vai procurar seus líderes, mas emenda frases como ¨não atrapalhar o Brasil¨ e ¨podem falar mal de mim¨. Lembrete: Lula não aprovou nenhum projeto importante sem apoio da oposição.
Agora, deveria ter grandeza. Tentar unir o país. Mas está difícil. Se o segundo turno fez bem ao presidente, levando-o descer do pedestal e entrar no ringue para ganhar a luta, a votação consagradora pode tê-lo devolvido às alturas. Ruim para o presidente. Pior para o país.