Fritar ministro, jogo perigoso 04/12/2016
- O ESTADO DE S.PAULO
O presidente Michel Temer precisa reafirmar com clareza, em benefício do País e do governo, sua prerrogativa exclusiva de nomear e demitir ministros.
Há uma evidente manobra para enfraquecer o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e substituir seu programa de ajuste por uma política de crescimento imediato.
Se admitir essa tentativa de fritura, o chefe de governo cometerá mais um erro sério e comprometerá sua autoridade.
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Nesse caso, porá igualmente em risco as metas mais importantes de sua administração.
O custo maior desse fracasso será pago pelos cidadãos.
Tentativas de enfraquecer o ministro da Fazenda já haviam ocorrido, com envolvimento de aliados e de pessoas próximas do presidente.
A nova manobra converteu-se em noticiário de grandes jornais logo depois da publicação do balanço econômico do terceiro trimestre.
O prolongamento da recessão por sete trimestres consecutivos é apenas uma parte do quadro.
O cenário mais detalhado inclui o desemprego de 12 milhões de pessoas, assim como o desalento de trabalhadores sem disposição, neste momento, de sair em busca de uma vaga.
Além disso, as primeiras informações a respeito da atividade econômica em outubro, início do quarto trimestre, confirmam um fim de ano com o País ainda encalhado.
A produção industrial voltou a recuar em outubro.
Foi 1,1% menor que no mês anterior e 7,3% inferior à de um ano antes.
De janeiro a outubro, a indústria produziu 7,7% menos que nos meses correspondentes de 2015.
Além disso, as contratações do comércio para o fim do ano têm sido fracas e tudo indica, até agora, um Natal de vendas modestas.
Não há, portanto, neste momento, sinais de início de recuperação a curto prazo.
As perspectivas são de atividade ainda muito baixa por algum tempo e ninguém pode dizer com alguma segurança quando ocorrerá a virada.
O governo já reduziu para 1% sua projeção de crescimento econômico em 2017 e tudo indica um novo ano muito difícil, mesmo para o cumprimento do programa de ajuste das contas públicas.
Os números ainda ruins do terceiro trimestre eram esperados e trouxeram pouca – talvez nenhuma – surpresa.
Mas aliados do governo e pessoas com acesso ao presidente reagiram como se o noticiário houvesse revelado uma catástrofe inesperada.
Há de fato problemas sérios e é preciso trabalhar mais cuidadosa e intensamente para chegar mais prontamente ao ponto de virada, mas isso é apenas um componente de um problema bem mais amplo.
Se esse desafio maior for ignorado e o governo sair em busca de soluções de curtíssimo prazo, as condições do País certamente se agravarão e o Brasil cairá mais alguns degraus na escala internacional de risco de crédito.
Se perder a calma e se deixar levar por essa onda, o presidente Michel Temer seguirá o caminho desastroso de sua antecessora.
É hora, sim, de pensar em medidas para uma reativação mais pronta da economia, mas sem renunciar ao trabalho de arrumação das finanças públicas e à implementação de uma agenda de reformas.
Apressar as licitações na área de infraestrutura é uma necessidade indiscutível.
Não se pode contar de imediato nem com a reação do consumo nem com a recuperação do investimento privado.
Pode ser o caso de redesenhar a estratégia e de refazer o cronograma das metas e, portanto, das ações, mas qualquer mudança, ninguém deve ignorar, pode comprometer a confiabilidade do governo.
Se o presidente quiser ampliar a mesa de discussões, convidando economistas de grande reputação para colaborar, deverá fazê-lo sem submeter a imagem e a posição do ministro da Fazenda a joguinhos políticos.
Os problemas de fato importantes vão muito além de pessoas e nomes.
Arrumar o País e recriar as condições de crescimento num prazo razoável são desafios enormes.
Mas o desafio preliminar para o presidente, neste momento, é afirmar sua autoridade e sua responsabilidade pelas ações de seu governo.
Sem isso, o País ficará sujeito aos arranjos ditados pelos interesses de políticos mais preocupados com suas carreiras do que com o Brasil.