Bancos sob pressão 17/12/2016
- Adriana Fernandes - O Estado de S.Paulo
Há consenso na área econômica do governo Michel Temer de que a crise de crédito que vive hoje a economia brasileira é a principal fonte de problema a ser atacada com força para garantir a retomada do crescimento em 2017.
O funcionamento muito lento do canal da crédito preocupa o governo porque esse tem sido um grande empecilho a retardar a reanimação da atividade econômica, que agora – na melhor das hipóteses – só é esperada para o segundo trimestre do ano que vem.
O Banco Central começou a reduzir os juros básicos da economia, a taxa Selic, mas esse recuo não tem sido repassado pelos bancos para empresas e pessoas físicas. Um problema que vai ganhar a partir de agora mais pressão, não só do governo como também dos empresários.
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Não passou despercebida a cutucada que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deu nas instituições financeiras esta semana ao cobrar a redução dos juros bancários. Ele escolheu justamente o almoço de fim de ano dos banqueiros, organizado pela Febraban, para dar o seu alerta.
Ex-executivo do setor financeiro nacional e internacional e com experiência de anos no comando do Bank Boston, o ministro não chegou a fazer um estardalhaço em defesa de uma cruzada pela redução dos spreads bancários – ação que marcou a época da gestão Guido Mantega na Fazenda.
Meirelles foi discreto na cobrança, mas cirúrgico no seu diagnóstico ao ilustrar com números o momento do mercado de crédito atual.
Enquanto o endividamento das famílias atingiu pico de 46,5% em setembro de 2015 e já caiu para 42,8%, o comprometimento da renda das famílias com o pagamento das suas dívida não mudou. Permaneceu em 22%.
A explicação dada pelo próprio ministro para esse quadro foi a de que a queda da taxa básica de juros foi contrabalançada pelo aumento do spread cobrado pelas instituições nas suas operações de crédito.
Ou seja, os bancos usaram a margem do spread para lucrar mais. O spread é a diferença entre o custo de captação e a taxa de juro cobrada pelas instituições financeiras.
A desculpa dos bancos para o movimento de retranca é a mesma: o medo da inadimplência.
É até compreensível que os bancos queiram se proteger de prejuízos, mas os exageros estão cada vez mais visíveis, principalmente por conta da depressão econômica do País que sufoca as empresas e os trabalhadores.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil, José Carlos Martins, elevou o tom essa semana ao chamar de “agiotagem” a postura dos bancos na hora de renegociar as dívidas das companhias que estão com dificuldades de honrá-las e precisam de capital para tocar o negócio.
Volta e meia a sociedade dá sinais de resistência e intensifica a pressão contra essa situação.
Quadro semelhante ocorreu após a crise internacional de 2008, quando empresas brasileiras passaram por um período de crise de crédito.
Em 2012, Mantega promoveu uma verdadeira guerra contra o spread bancário e, para isso, forçou os bancos públicos a iniciarem o movimento de baixa, que depois foi acompanhado pelos bancos privados.
Uma nova queda de braço com bancos está se formando e deve dominar o debate da agenda econômica em 2017, já a partir de janeiro.
O governo não pretende tomar medidas heterodoxas e intervencionistas, mas tenta reagir.
Medidas regulatórias estão sendo preparadas pelo Banco Central para reduzir o custo dos bancos e aumentar a competitividade dos bancos médios.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, já antecipou que vai simplificar os depósitos compulsórios para reduzir os custos das instituições.
Na prática, a briga já começou com as administradores de cartão de crédito.
O governo quer que elas reduzam os juros cobrados dos clientes, um dos mais altos do mercado.
Se elas não toparem, o governo vai editar Medida Provisória reduzindo o prazo para que elas paguem aos lojistas as compras feitas com cartão de crédito.
BANCOS PÚBLICOS
Como no passado, os bancos públicos podem sair na frente, forçando a queda dos juros, sem que sejam utilizados os instrumentos antigos.
Entre os cinco maiores bancos do País, três são do governo: BB, Caixa e BNDES.
Os privados que se cuidem.
A verdade é que só com pressão é que as instituições privadas se mexem.