Montanha-russa 13/01/2017
- ELIANE CANTANHÊDE - O ESTADO DE S.PAULO
Como na economia não há jabuticabas, que têm origem no Brasil e, reza a lenda, só dão aqui, parecia claro que a inflação iria cair de madura. Recessão não combina com inflação.
Se empresas fecham, famílias estão endividadas, juros são estratosféricos e há mais de 12 milhões de desempregados, não há pressão da demanda, logo não há aumento de preço.
Dito isso, é claro também que a queda da inflação dá um refresco não só para os juros, mas para o próprio presidente Michel Temer.
PUBLICIDADE
Temer fechou 2016 sob pessimismo, com os agentes econômicos começando a duvidar da capacidade do governo de alavancar o crescimento e os agentes políticos se perguntando se ele se sustenta na Presidência até 2018.
Até nomes, como os de Fernando Henrique e Nelson Jobim, foram jogados nas capas de jornais como opção a Temer.
Além do teste de nervos, gera tensão política.
O início de 2017 não foi mais animador, com o massacre de presos em Manaus ganhando manchetes em toda a mídia nacional e destaque na internacional.
Não bastassem crise econômica e política e revelações da Lava Jato, caos do sistema carcerário já no primeiro dia do ano?! Seria puro azar, não fosse pura realidade brasileira.
E Temer reagiu mal: demorou a se manifestar e, quando o fez, referiu-se à matança como “acidente pavoroso”.
As boas notícias só começaram no 11.º dia do novo ano, quando o previsível se confirmou: a inflação caiu!
Em 2015, último ano completo de Dilma Rousseff, foi 10,67%, bem acima do teto da meta (6,5%).
Em 2016, primeiro meio ano de Temer, caiu para 6,29%, de volta à meta.
E justificou uma queda dos juros de 0,75 ponto.
A indústria comemorou.
Bolsas subiram, dólar caiu.
Temer, mais aliviado do que exultante, diz que o governo “está no caminho certo” e já acena tanto com inflação no centro da meta (4,5%) quanto com juros abaixo de dois dígitos.
Cá para nós, a inflação caiu porque tinha de cair mesmo, com esse marasmo da economia – e continua alta exatamente nos alimentos.
E não quaisquer alimentos, mas também daqueles que estão diariamente na mesa dos brasileiros de Norte a Sul: arroz, feijão, banana, leite e derivados.
E, cá para nós também, queda dos juros é sempre uma boa notícia para o setor produtivo, o comércio, os cidadãos.
Logo, costuma render dividendos políticos.
Mas comemorar 13% de juros?
Estamos falando nos maiores juros do mundo!
A sensação, portanto, é de que todo mundo quer que o Brasil melhore, Temer acerte o passo e possamos voltar a sorrir e até ser felizes para sempre.
Há um evidente cansaço diante das crises e uma torcida para que as coisas retomem um mínimo de normalidade.
Assim, qualquer boa nova vira festa. Mas com a mesma intensidade com que qualquer má notícia vira o fim do mundo.
Então, a queda da inflação e a consequente queda dos juros são uma ótima notícia de início de ano e uma lufada de alívio para Temer e seu governo, mas a principal conclusão sobre a reação é que o ambiente continua de sobressaltos, sacolejos, incertezas, instabilidade.
Qualquer desapontamento, lá vem o baixo astral.
Qualquer dado positivo, lá vem o alto astral.
Psicologia coletiva à la montanha-russa.
Na verdade, as coisas devem e podem melhorar, mas isso é um processo lento, de altos e baixos, depende visceralmente da complexa aprovação da reforma da Previdência e da recuperação do mais político dos indicadores econômicos, o emprego, que vai demorar.
O governo torce para ter iniciado uma trajetória não só de confiança na economia, mas também no próprio Temer.
Mas, em qualquer hipótese, essa trajetória não será nada fácil.