MST, centrais, UNE e Igreja tentam empurrar governo para esquerda 11/11/2006
- Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo
Grupos discutem como se unir para aumentar a pressão sobre Lula e reivindicar mudanças na área econômica
Os movimentos sociais, centrais sindicais e grupos políticos de esquerda estão discutindo formas de se unir para aumentar a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato. Vão cobrar o apoio que deram a ele no segundo turno das eleições e reivindicar mudanças na política econômica. No fundo, querem se transformar em atores de peso no debate instalado, desde o anúncio da vitória do candidato petista, entre os chamados desenvolvimentistas e monetaristas. Como acontece em setores do PT, consideram que o governo está em disputa e desejam puxá-lo para a esquerda.
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¨Houve muita tolerância com Lula no primeiro mandato, por causa de seu passado de sindicalista e perseguido político, e isso abriu espaço para a direita na área econômica¨, diz Antonio Carlos Spis, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do País, com 3.370 sindicatos, ligada ao PT. ¨Agora não dá mais para ficar ouvindo que ele vai convidar o Jorge Gerdau e o Delfim Netto para seu governo.¨
Spis será o representante da CUT na reunião da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais que acontece hoje em Guararema, interior de São Paulo, com representantes de 34 organizações, entre as quais o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Marcha Mundial das Mulheres. Eles vão avaliar o resultados das eleições e discutir como unir suas forças em 2007.
O ponto de unidade até agora é o combate à política econômica. Ninguém acredita que sofrerá alterações, a menos que o presidente seja pressionado. ¨Os movimentos sociais se desencantaram. Viram que as conquistas sociais não virão de graça, sem muita organização. Nem com Lula na Presidência¨, diz Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST.
Com cerca de 150 mil famílias acampadas no País, o MST acusa Lula de ter favorecido o agronegócio no primeiro mandato e negligenciado a reforma agrária, que abriria mais oportunidades de emprego. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que é vinculado à CNBB e deve enviar um representante para o encontro de hoje, também acusa o governo de ter sucumbido às pressões do agronegócio.
¨Por causa disso a violência aumentou nas áreas indígenas, ao mesmo tempo que diminuiu o volume de terras demarcadas¨, diz Egon Heck, da coordenação do Cimi em Mato Grosso do Sul. ¨Mudanças só virão com pressão sobre o governo.¨
Integrantes da coordenação acham que o presidente deveria ouvi-los com mais atenção. ¨Lula perdeu a eleição no primeiro turno e só venceu no segundo depois que a esquerda, os movimentos e os sindicatos foram às ruas¨, diz Spis.
Na área sindical existe o temor de que a reforma sindical a ser encaminhada por Lula no segundo mandato reduza direitos trabalhistas. Por causa disso, já se discute a realização de uma greve geral, ainda no primeiro semestre do ano que vem.