Revolução dos Idiotas 13/02/2017
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Seria até engraçado se o que está em curso não beirasse o melancólico.
As esquerdas, ora vejam!, estão a cobrar daqueles que apoiaram o impeachment de Dilma: “Por que vocês não estão nas ruas?”.
E sabem o que é curioso?
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A direita cavalgada já fala em marcar data para protestos.
A pauta exala aquele moralismo rombudo, que chamo de “túmulo da moral”: – em defesa da Lava Jato (ela está sob risco)?; – contra Moreira Franco ministro; – contra o “foro privilegiado”; – pela diminuição do número de deputados e senadores; – que todos os acusados e investigados deixem o governo imediatamente…
O colunista Janio de Freitas, um crítico do impeachment mais duro do que qualquer petista, não perde tempo em seu texto de ontem, domingo.
Lá se pode ler:
“Agora ficou mais fácil compreender o que se tem passado no Brasil. O poder pós-impeachment compôs-se de sócios-atletas da Lava Jato e, no entanto, não há panelaço para o despejo de Moreira Franco, ou de qualquer outro da facção, como nem sequer houve para Geddel Vieira Lima. Não há panelaços nem bonecos inflados com roupa de presidiário.
Logo, onde não há trabalhador, desempregado, perdedor da moradia adquirida na anulada ascensão, também não há motivo para insatisfações com a natureza imoral do governo.
Os que bancaram o impeachment desfrutam a devolução do poder aos seus servidores. Os operadores políticos do impeachment desfrutam do poder, sem se importar com o rodízio forçado, que não afeta a natureza do governo.
Derrubar uma Presidência legítima e uma presidente honesta, para retirar do poder toda aspiração de menor injustiça social e de soberania nacional, tinha como corolário pretendido a entrega do Poder aos que o receberam em maioria, os geddeis e moreiras, os cunhas, os calheiros, os jucás, nos seus diferentes graus e especialidades.”
Notaram?
Janio é, a seu modo, honesto intelectualmente, embora bem menos com os fatos.
Seu texto não esconde a contrariedade com a queda de Dilma, ignora os motivos reais da deposição e expõe sua leitura: os defensores do impeachment queriam mesmo era pôr fim ao governo que reduzia as desigualdades sociais e defendia a soberania.
Logo, os que nos alinhamos com a queda de Dilma queremos um país socialmente mais injusto e somos entreguistas.
Em suma, somos pessoas más. Janio e os petistas são bons.
Muito bem!
O colunista deixa claro quão desprezível somos e registra o que chama “ausência de panelaços” e “bonecos infláveis”…
Bem, mas por que haveríamos de ser nós, os pró-impeachment, a fazê-los?
Não existem as esquerdas para isso?
Aí o liberal leso e o direitista que zurra consideram:
“É! Ele pode estar certo. Afinal, somos contra a corrupção de todos os partidos e governos…”.
Sim, somos!
E é claro que queremos o cumprimento da lei.
Felizmente, Lava Jato e tribunais atuam sem quaisquer restrições que não estejam previstas em lei.
Na verdade, ignoram até as que estão, não é mesmo?
Venham cá: a natureza desse governo que aí está é, em alguma medida, semelhante ao governo Dilma, que foi deposto?
Sem crime de responsabilidade, reitere-se, ela não teria caído.
Mas também não teria caído só com ele.
Para Dilma cair, foi preciso:
– quebrar o país;
– conduzi-lo à maior recessão de sua história;
– transformar o Congresso num mercadão;
– substituir a agenda do país pela agenda do partido;
– o PT ver desmoralizada a sua fama de monopolista da virtude.
Já manifestei aqui a minha satisfação por Dilma ter cometido crime de responsabilidade.
Sem ele, estaríamos condenados ao desastre.
Sem ele, Janio estaria aplaudindo a presidente honesta a dançar sobre o caos.
Em suma, os idiotas estão caindo na conversa das esquerdas, que agora querem comparar um governo com muitos problemas, sim — mas que nos deu uma perspectiva de futuro ao menos —, com um outro que nos conduzia à ruína.
Alô, direitistas xucros!
Janio e outros esquerdistas os esperam na praça.
Afinal, vocês são ou não são contra a corrupção e a favor da Lava Jato?