Os juros, o BC e os políticos 24/02/2017
- O ESTADO DE S.PAULO
Os juros poderão cair mais rapidamente nos próximos meses, favorecendo o consumo, a produção e a criação de empregos, mas isso dependerá em boa parte da aprovação e da execução de reformas e de ajustes, principalmente nas contas públicas.
Dependerá, portanto, da ação do governo e do apoio político à modernização da economia, assim como da evolução, é claro, da inflação e do cenário econômico, ainda muito incerto no exterior.
Este é o recado essencial do comunicado emitido, embora com outras palavras, logo depois da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do Banco Central (BC).
PUBLICIDADE
Além de reduzir a taxa básica de juros de 13% para 12,25%, o comitê apontou a possibilidade, e esta foi a grande notícia, de intensificação dessa política.
O Copom tem reagido com rapidez aos sinais de recuo da inflação e de avanço na política de ajustes e de reformas.
Dois cortes de 0,5 ponto porcentual entre outubro e dezembro foram seguidos, no começo do ano, por uma redução de 0,75 ponto.
Esse movimento estabeleceu um novo padrão de relaxamento da política monetária, disse poucos dias depois, o presidente do BC, Ilan Goldfajn.
O padrão se manteve na reunião encerrada ao anoitecer da quarta-feira passada.
Analistas do setor privado já apontavam como razoável um corte de 1 ponto, mas mantiveram a previsão de 0,75 ponto.
Com evidente prudência, os diretores do BC mantiveram o padrão de jogo, repetindo o lance de janeiro, e abriram espaço, oficialmente, para maior ousadia – “uma possível intensificação do ritmo de flexibilização monetária” – a partir de uma das próximas deliberações.
As decisões do Copom têm sido tomadas com segurança.
O comportamento da inflação permanece favorável, segundo o comunicado de quarta-feira.
A desinflação tem-se espalhado e é perceptível nos preços mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, de acordo com a nota.
As projeções, tanto oficiais como de mercado, apontam números finais em torno da meta de 4,5% neste e nos próximos anos.
Os balanços divulgados nos últimos dias confirmam a tendência de aumentos mais moderados.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial, subiu 0,54% em fevereiro.
Pouco maior que a do mês anterior (0,31%), essa taxa foi a menor para um mês de fevereiro desde 2012, quando atingiu 0,53%.
A alta acumulada em 12 meses ficou em 5,02%, abaixo da variação registrada no período terminado no mês anterior.
Um dia depois saiu o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A variação mensal passou de 0,64% em janeiro para 0,08% no mês seguinte.
Esse índice é formado por três componentes – variações dos preços por atacado, dos preços ao consumidor e do custo da construção.
Os preços por atacado, com peso de 60% no IGP-M, diminuíram 0,09% no mês.
Os preços ao consumidor, representando 30% do conjunto, aumentaram 0,39%.
A variação de cinco das oito grandes classes de gastos de consumo foi menor que a de janeiro.
Só o custo da construção, com alta de 0,53%, subiu mais que no mês anterior (0,29%).
É especialmente animadora a evolução dos preços por atacado, um prenúncio de pressões moderadas sobre os preços finais nos meses seguintes, mesmo na hipótese de reanimação da demanda das empresas e dos consumidores.
Sobram importantes incertezas.
Do lado externo, são em grande parte associadas à pauta do novo presidente americano, Donald Trump.
Do lado interno, as preocupações decorrem principalmente das incertezas quanto à evolução dos ajustes e reformas e ao ritmo de reativação da economia.
O presidente Michel Temer tem conseguido apoio para tocar boa parte de sua agenda, mas cada proposta de austeridade envolve um novo esforço de convencimento.
Exemplo: a União só pode ajudar Estados falidos se tiver a garantia de políticas de ajuste, mas muitos congressistas se opõem à fixação, em lei, dessas contrapartidas.
Os membros do Copom têm razões para seguir com atenção todas essas questões.