Brasil mais perto das indiretas do que antes. Sim, seria trágico! 03/03/2017
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Um espectro passou a rondar a política e o futuro. Qual? Vamos ver.
Será que a chapa que elegeu Dilma-Temer corre mais riscos agora do que antes?
É inevitável que se responda “sim” a essa questão.
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Segundo o que vazou do depoimento de Marcelo Odebrecht ao TSE, “a coisa não é brinquedo”, como se diz em Dois Córregos.
O empresário afirma calcular em R$ 300 milhões o total de recursos repassados ao PT entre 2008 e 2014.
Inicialmente, Antonio Palocci teria o controle dessa, como a gente pode chamar?, conta corrente.
Depois, a chave do cofre teria sido repassada a Guido Mantega.
Mantega, aliás, a se confirmarem os depoimentos, vai se revelando realmente um portento.
Se for verdade o que se diz a respeito dele, os males que fez ao Brasil não são apenas estes que se veem por aí: recessão, desemprego, melancolia.
Não! Ele foi capaz de coisas bem mais deletérias.
Desses R$ 300 milhões, quantos foram efetivamente para a campanha que reelegeu Dilma em 2014?
Afinal, é isso que está em questão.
Um dos fragmentos do depoimento de Marcelo que chegaram ao público fala em R$ 150 milhões, dos quais 80% teriam sido repassados pelo caixa dois.
Bem, parece que está caracterizada aí uma forma inequívoca de abuso, não?
Mas Marcelo tratava de dinheiro com Dilma?
Ele deixou claro que não.
Afinal, segundo o seu relato, a coisa já estava profissionalizada.
Mas e Temer com isso?
Alguém realmente imagina que o então vice tivesse acesso aos porões financeiros do PT, dentro ou fora da campanha?
A hipótese é ridícula.
Ocorre que não há uma só alma em Brasília que não aposte que Herman Benjamin, o relator, vá pedir a cassação da chapa.
O que há sobre Michel Temer é a confirmação, e ele próprio nunca o negou, de que fez um jantar no Jaburu para diretores da Odebrecht.
E ali se falou de doações.
Marcelo nega que tenha tratado de valores com o então vice-presidente.
Todo o acerto teria sido feito com Eliseu Padilha.
Contra este, pesa a delação de Cláudio Mello Filho, outro ex-diretor da Odebrecht, segundo o qual, no tal jantar, acertou-se a doação ao PMDB pelo caixa dois.
E o ministro teria sido um dos operadores.
O partido registrou no TSE uma doação de R$ 11,3 milhões, dentro dos quais estariam os tais R$ 10 milhões.
A situação de Temer, objetivamente, não é nem melhor nem pior do que era antes, desde que se deu o vazamento da delação de Mello Filho.
A rigor, poder-se-ia dizer que é discretamente melhor, já que Marcelo nega parte ao menos da versão do outro.
O ponto, no entanto, não é esse.
Fica evidente que a sem-vergonhice que vigorava nos governos petistas não poupou também as doações eleitorais.
E o que se investiga no TSE é justamente se houve ou não abuso.
Benjamin ainda vai ouvir mais delatores.
Depois será preciso dar chance ao contraditório.
Isso tudo pode empurrar o julgamento para o ano que vem.
Que a cassação da chapa se tornou um tema mais quente do que jamais foi, isso é inequívoco.
Quanto mais perto, no entanto, das eleições de 2018 estiver o julgamento, menos razoável — e juízes pensam na razoabilidade — se torna essa saída, o que obrigaria o país a fazer eleições indiretas num prazo de 30 dias para eleger presidente e vice, segundo dispõe o Parágrafo 1º do Artigo 81 da Constituição.
Mesmo fora da Presidência, a cassação da chapa não seria irrelevante para Dilma.
Ela se tornaria inelegível por oito anos.
No caso de Temer, a perda seria ainda maior: iria junto o mandato.
Os advogados do presidente insistem em que o TSE deve analisar separadamente as condutas, já que as respectivas prestações de conta foram distintas.
Os defensores de Dilma, obviamente, são contrários à separação.
Se ela estiver agarrada a Temer, avaliam, tem mais chances de se salvar.
A economia, vejam que coisa, vem exibindo sinais tímidos, mas insistentes, de melhora.