Desgaste pode derrubar ministro da Defesa 23/11/2006
- Agência Estado
A crise do setor aéreo pode fazer a reforma ministerial começar pelo Ministério da Defesa, com a substituição do ministro Waldir Pires, desgastado tanto no Palácio do Planalto quanto no âmbito militar. Fontes civis e militares confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que a permanência do ministro é, a cada dia, mais insustentável não só pelo agravamento da crise, mas também pela visível incompatibilidade entre Waldir Pires e os comandantes militares, a ele subordinados.
Prestigiado pelo seu desempenho à frente da Corregedoria-Geral da União, Pires, na avaliação do Palácio, acabou engolido pela crise aérea e não demonstrou agilidade para encontrar uma saída rápida que evitasse a caracterização de um ¨apagão aéreo¨, em meio a uma lenta investigação sobre o acidente entre o Legacy e o Boeing da Gol.
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Além disso, a defesa insistente de Pires para que o controle fique na mão dos civis, ressuscitou restrições que os militares alimentam há anos em relação ao ministro da Defesa. Político com longa e histórica militância de esquerda, na visão dos militares, Pires teria tomado partido dos controladores, aos quais chegou a pedir publicamente coragem e resistência na defesa de suas posições por melhores condições de trabalho.
Para os militares, trata-se de uma manifestação de cunho sindicalista, que teria contaminado os controladores militares que recebem seus vencimentos de acordo com suas patentes. Na visão palaciana, Pires não superou as diferenças e divergências. Antes, não conseguiu administrá-las. Outro motivo de insatisfação da caserna foi a manobra de se criar uma comissão para discutir a crise em um período estimado de 60 dias.
O ministro enfrentou dificuldades até para convencer seus subordinados de que o controle tem que ficar a cargo dos civis. Os oficiais de alta patente creditaram a idéia como sendo um dos exemplos da postura de esquerda manifestada por Pires ao longo da sua gestão.
No desenho que o Planalto estuda, ele voltaria para a CGU e o ministério seria destinado a um político conservador, mais ao gosto dos militares. Assessores próximos de Lula já trabalham com um perfil de ministro que tenha pulso firme. Poderia ser um político do PMDB, como Michel Temer, ou um funcionário de carreira do Itamaraty.