O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

DE ARROBAS E QUILOMBOLAS
08/04/2017 - MIGUEL LUCENA*

Do discurso proferido por Jair Bolsonaro na Casa Hebraica do Rio de Janeiro, em que reclama da obesidade dos quilombolas e da consequente impossibilidade de procriarem, depreende-se que o parlamentar deve estar alicerçado em estudos acadêmicos para sustentar seus argumentos.

Vou, inicialmente, tentar traduzir o que ele quis dizer e não teve capacidade de se comunicar claramente sobre a obesidade dos quilombolas.

Bolsonaro tentou denunciar que os quilombolas são preguiçosos, não trabalham e estão passando muito bem, ao ponto de engordarem sem parar.


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Ele esperava encontrar gente esquálida, como na Etiópia, com crianças penduradas nos peitos murchos das mães e os olhos perdidos no infinito.

Ele calculou em arrobas o peso dos remanescentes de quilombos, como se contam os quilos de um animal de corte – boi e porco, por exemplo.

Deu a entender, também, que as pessoas gordas não conseguem manter relações sexuais e, portanto, procriar.

Não sei de onde ele tirou essa conclusão – seria o caso de alguém entrevistar Jô Soares e Fabiana Carla, a médica do “isso pode!”, que faz sucesso recomendando doces e comidas gordurosas, para eles dizerem como conseguem fazer sexo.

Por coincidência, assisti a um documentário sobre a carreira de Adolf Hitler, intitulado "Hitler, a career", e não consegui extrair conteúdos que se aproveitassem dos discursos do fürer.

Muitos lugares-comuns, sentimentalismo exacerbado, chavões, palavras de ordem, encenações, bandeiras, flâmulas e ofensas a supostas “raças inferiores”, as quais deveriam ser exterminadas para que surgisse o novo homem, alto, magro, branco e forte.

Enquanto Hitler mitificava o novo homem, seus generais apareciam cada vez mais gordos, o que lhe agastava sobremaneira, tanto que ele passou a realizar comícios à noite para que, ficando na parte escura, os oficiais obesos não fossem notados pela multidão.

Espero que Bolsonaro não avance para propor que os negros e as negras gordas dos quilombos sejam descartados como mistura para os embutidos da Friboi.

...

*Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal e jornalista.

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