As provas de fogo 07/05/2017
- CARLOS BRICKMANN - CHUMBOGORDO.COM.BR
A libertação de José Dirceu, certa ou errada, gera um debate de curta duração: dentro de pouco tempo o Tribunal Regional Federal do Paraná julgará o apelo de Dirceu.
Se o absolver, Dirceu continua em liberdade, inocentado neste caso, esperando o julgamento de outros processos.
Se o condenar, Dirceu volta à prisão para cumprir pena de quase 21 anos, menos o que já foi cumprido e os abatimentos legais.
PUBLICIDADE
Ele pode fazer as proclamações revolucionárias que quiser que isso não muda sua situação.
Mas a luta dos alvos da Lava Jato com a Justiça continua quentíssima.
Lula deve prestar depoimento a Sérgio Moro nesta quarta.
Tema: o apartamento no Guarujá e o sítio em Atibaia.
A suspeita é de que os imóveis sejam parte de uma propina.
Há manifestações organizadas dos dois lados, e a Polícia quer mantê-las separadas: pró-Lula, na rua 15 de Novembro; contra, no Centro Cívico.
Haverá bloqueios a 150 metros da Justiça Federal de Curitiba.
Só entra quem tiver relação com o depoimento.
Antônio Palocci, que talvez opte pela delação premiada, deve ser ouvido sete vezes por Moro: nos dias 8, 9, 22, 24 e 26 de maio, 5 e 7 de junho.
Palocci, ministro de Lula e Dilma, é acusado de receber quase R$ 50 milhões em propinas do Petrolão, disfarçadas de serviços de consultoria.
Há ainda as novas revelações de Renato Duque e outros empresários querendo entrar na lista de delatores.
Há dias muito quentes pela frente.
É tudo política
Tanto Dirceu quanto boa parte do PT (há alas petistas que abandonaram Dirceu quando foi preso e ainda não se reaproximaram dele) acreditam que sua melhor defesa é politizar o julgamento – antes ser preso com imagem de revolucionário do que como corrupto.
Dirceu saiu da prisão propondo que o PT faça agora o que não fez em 13 anos de Governo:
“Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”.
Gilberto Carvalho, do núcleo duro de Lula e Dilma, ameaça:
“Se vierem para atacar, disseminando o ódio, vamos acionar a nossa militância”.
Uma dúvida: que pacto é esse de que fala Dirceu?
Que é que foi pactuado, e com quem?
Exceto, claro, as empreiteiras?
Dilma em risco 1
Mônica Moura, esposa de João Santana, o marqueteiro de Dilma, colocou-a numa situação perigosa: em sua delação premiada, disse que Dilma e ela tinham um meio seguro de comunicação (uma conta de e-mail, com nome falso, da qual só as duas tinham a senha.
O e-mail, escrito como rascunho, não era enviado. Quem tinha a senha o abria, lia e assumia o compromisso de apagá-lo).
Segundo Mônica, Dilma a avisou de que ela e o marido estavam na mira da Operação Lava Jato.
A presidente teria também uma linha desse tipo com o empreiteiro Marcelo Odebrecht, usando-a para informá-lo dos avanços da Lava Jato; e, muitas vezes, teria usado o notebook de Mônica para enviar mensagens ao empreiteiro.
O notebook foi entregue por Mônica Moura à Polícia Federal, para perícia.
Esta parte da delação é fácil de confirmar: o notebook guarda registros de mensagens apagadas.
O computador abre o local da mensagem para outras gravações, mas só a apaga quando vem nova gravação por cima.
Se isso for verdade, Dilma pode ser acusada de obstrução da Justiça.
Dilma em perigo 2
Pior será se a ex-presidente utilizou computadores do Governo para trocar esse tipo de mensagens.
É agravante.
Governos em risco
1 – O Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato do governador do Amazonas, José Melo (PROS), e do vice Henrique Oliveira, por compra de votos nas eleições de 2014. Foram convocadas novas eleições.
2 – A Procuradoria Geral da República pediu ao TSE a cassação do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e da vice Lígia Feliciano (PDT), por abuso de poder político.
Segundo o procurador Nicolao Dino, o governador concedeu reajustes de R$ 7,2 milhões, pouco antes das eleições de 2014, a aposentados e pensionistas, via PBPrev.
Foi pedida também a condenação do superintendente da PBPrev na época, Severino Ramalho Leite.
Coutinho já tinha sido julgado e absolvido pelo TRE da Paraíba.
3 – A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio pediu ao TSE que seja mantida a cassação do governador Pezão (PMDB) e do vice Francisco Dornelles (PP), condenados pelo TRE por abuso de poder econômico: concessão de benefícios a empresas em troca de doações posteriores.
4 – O Supremo autorizou processos contra 12 governadores. Outro já foi cassado. É quase metade do número de governadores do país.