O negativo e o positivo 17/05/2017
- MÍRIAM LEITÃO - O GLOBO
A agricultura salvou o PIB do primeiro trimestre e o setor pecuário está sob investigação. Esse é apenas um exemplo da complexidade dos tempos atuais, em que além de sair de uma crise econômica de grandes proporções, o país tem que enfrentar o efeito de decisões erradas e desvios de conduta. Isso leva a um cenário cheio de pontos positivos e negativos.
Depois de um ano de queda por razões climáticas, a produção de grãos deu um salto, recuperando-se da quebra de safra e batendo recorde de produção e produtividade.
O agronegócio brilhou neste começo de ano, permitindo os primeiros dados positivos depois de um mar de indicadores negativos na atividade econômica. Mas um setor do agronegócio, a produção de carne, está sob investigação em várias frentes ao mesmo tempo.
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A “Operação Carne Fraca” foi muito mais do que se tentou estigmatizar, com a paródia do papelão.
O que houve de fato é que a Polícia Federal pegou pequenos e grandes frigoríficos com problemas sanitários localizados e muitos indícios de corrupção.
Entre os grandes estão JBS e BRFoods. Na sexta-feira, a “Operação Bullish" foi contra as bases dos empréstimos, compra de debêntures e conversão em ações do grupo JBS no BNDES.
O próprio banco instaurou comissão para apurar os fatos.
Ainda ontem, a “Operação Lucas” estava atrás de corrupção no Ministério da Agricultura, na relação entre fiscais e o frigorífico Minerva.
E há novas investigações em curso.
O setor de carne sofre o efeito da promiscuidade na sua relação com o governo, que sempre existiu e se agravou nos últimos anos.
Os casos de fiscais pagos pelos fiscalizados não são raros no setor.
E foi isso que se viu numa das partes da denúncia da “Operação Carne Fraca” e aparece agora na “Lucas”.
O crescimento do setor se baseou em grande parte na dependência excessiva dos aportes de bancos estatais e alguns foram muito lesivos aos cofres públicos.
É natural que o TCU e o Ministério Público investiguem.
Cada ponto dessa crise tem uma razão específica.
No caso da carne é a soma de anos de erros na política de usar a alavanca governamental para crescer e conquistar o mercado externo.
O curioso é que o auge do intervencionismo estatal no setor não coincide com o melhor desempenho das exportações brasileiras.
O Brasil é competitivo na atividade, não era necessária uma política estatal para que isso acontecesse.
Em todos os outros setores da economia, o país tem se alternado entre notícias negativas e positivas.
Ontem o Ministério do Trabalho divulgou a criação líquida de 60 mil empregos formais em abril, mas o país continua sem saber quando vai reduzir de forma significativa o nível recorde de desempregados. A cena é complicada nessa saída da recessão.
A própria retomada não está garantida porque o grau de incerteza é enorme na política.
Na economia também há dilemas que não se sabe como resolver, como o das empresas, de diversas áreas, que ficaram muito endividadas na crise e estão sem fôlego para voltar a contratar e investir.
Todas as grandes construtoras do país foram tragadas pelas investigações da Lava-Jato, tiveram suas diretorias dizimadas após as revelações sobre os crimes que cometeram.
Nem todas vão sobreviver.
Na área fiscal, a dúvida permanece. O buraco é enorme.
A dívida pública continua aumentando e a volta ao equilíbrio primário vai demorar anos para acontecer.
Nos últimos dias saíram algumas notícias boas como o lucro da Petrobras, o primeiro desde 2015, a captação de bônus no exterior a volumes maiores do que o esperado.
Isso ajuda a mudar um pouco o perfil da dívida da companhia, que foi atingida em cheio pela corrupção e má gestão nos dois últimos governos.
Mas a estatal continua a petrolífera mais endividada do mundo.
O Banco Central divulgou um número positivo de atividade neste primeiro trimestre, porém a maioria dos analistas prevê um segundo trimestre mais fraco do que o primeiro e uma recuperação muito lenta.
Este é o tempo de um indicador em alta num dia, e outro em queda no dia seguinte.
Essa gangorra é ruim, mas é melhor do que nos últimos dois anos, em que havia uma queda num dia e no outro também.
O país está saindo assim claudicante dessa crise, sem ter certeza se ela chegou realmente ao fim.