À espera dos fogos 15/06/2017
- BLOG DE RICARDO NOBLAT - O GLOBO
No meio do caminho do presidente Michel Temer tem muitas pedras. Ontem, aparentemente, uma foi removida ou jogada para mais adiante. O destino de outra ainda é incerto.
Temia-se no governo e fora dele que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contasse algo que pudesse abalar ainda mais a frágil situação do presidente da República, investigado pelo Supremo Tribunal Federal sob a suspeita de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa.
Em delação à Procuradoria-Geral da República, executivos do Grupo JBS disseram que pagavam a Cunha para que ele se mantivesse em silêncio. Gravação de conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista registra a suposta concordância do presidente com a medida: “Faça isso”.
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Cunha foi ouvido pela Polícia Federal e negou tudo. Negou ter recebido propina da JBS. Negou que Temer tivesse lhe acenado com qualquer vantagem para que ficasse calado. E produziu uma frase de efeito: “Meu silêncio não está à venda”. O governo respirou aliviado. Por enquanto.
A outra pedra atendia pelo nome de Lúcio Bolonha Funaro, corretor financeiro, apontado como operador de Cunha junto a empresas e ao governo, recolhido há meses à Penitenciária da Papuda. Funaro foi também ouvido pela Polícia Federal. Seu depoimento estendeu-se por mais de três horas e meia.
Foi dele a iniciativa de falar. Funaro negocia uma delação premiada e para tal precisa contar o que sabe sobre negócios sujos da República. Sabe muito. Se contar metade do que sabe complicará a vida de muita gente. Poderá complicar também a de Temer. Anoiteceu em Brasília sem que tivesse vazado nada sobre o quer ele revelou.
As próximas duas semanas serão propícias à explosão de fogos em homenagem a São João e a São Pedro. O Congresso funcionará à meia boca, se funcionar. Nada melhor para que a Procuradoria Geral da República dispare seu tão aguardado petardo contra Temer em forma de uma denúncia a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal.