Questão de juntada 19/06/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
A patética entrevista concedida por Joesley Batista à revista “Época” tem o seu grande momento, o seu ápice moral, aquele instante que restará para a história como o sumo e a síntese de uma era e de seus protagonistas.
Quando os pósteros quiserem saber quem mesmo foi Rodrigo Janot, terão de consultar este trecho da entrevista.
Bem, impressiona-me que gente que se queira séria a leve a sério. Vamos lá.
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Eis aí. Michel Temer está na Presidência da República há pouco mais de um ano. Aécio passou os 13 anteriores na oposição, e Joesley, o nosso herói sem nenhum caráter, o nosso Macunaíma que tinha o BNDES de Lula como o seu muiraquitã, não tem dúvida: o número 1 é Temer, e o 2, Aécio.
E a ele, ora vejam!, coube a dura missão de revelar isto à nação.
Na nota em que respondeu às delinquências morais do açougueiro de instituições, lembrou o Palácio do Planalto:
“Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES. Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto.”
Reportagem da Folha desta segunda demonstra que ele não sabe ao certo quando conheceu Michel Temer. Ora diz ter sido em 2010, ora em 2011.
Sim, faz diferença; a diferença entre quem não é vice-presidente da República (2010) e quem é (2011).
Nos anos todos de relacionamento com Lula, Joesley nunca quis gravar nada.
Teve essa ideia só agora, quando caiu nas malhas de Janot.
Aí, meus caros, foi preciso delatar pesos-pesados.
Aquele que confessou ser o maior criminoso do Brasil deixou-se tomar por impulsos patrióticos e tentou mandar para a fogueira os presidentes da República e do PSDB, principal adversário do PT.
“Ah, mas ele também faz acusações contra Lula…”, cujo governo, diz, institucionalizou a corrupção.
Ora, isso nem tipo penal é.
A acusação só serve para “lavar” o objetivo da operação: derrubar Temer.
Bem, eu não queria, nesse caso, estar e ter estado cem por cento certo.
E estava, não é?
Joesley é a obra-prima de Janot!
Joesley é o seu anjo vingador!
Joesley veio para provar que, se todos são iguais, então Lula é melhor, como escrevi em dias longínquos em coluna na Folha.
Tenho, sim, certa compaixão por quem caiu na conversa de Janot e dos salvacionistas e agora se pega em meio a uma grande, literalmente, roubada.
Ah, quantos insultos não tive de ouvir e de ler de vigaristas!
Ah, quantas não foram as vezes em que uma simples restrição técnica, publicada aqui, era tratada por vagabundos e pistoleiros como uma conspiração.
A verdade está começando a vir à luz.
E acreditem: está só no começo.
O tempo, este grande corretor de rumos, está se encarregando de evidenciar quem é quem e quem quer o quê nessa peleja.
O meu norte sempre foi, é e continuará a ser o Estado de Direito.
Nem sempre foi fácil.
Mas me orgulho até da dor.
Ela não me fez perder o juízo.
Ah, não custa registrar: um dia ficará claro que a mão que balançou o berço do herói delator Joesley Batista tem uma sigla: PT!
Sim, sempre soube que o tempo me daria razão.
Porque, afinal, eu estava certo.
A verdade está começando a aparecer até antes da hora esperada.
Como sabemos, bêbado de tanto poder, Janot cometeu alguns erros.
E alguns de seus baba-ovos também se revelam.
Janot vai para o trono ou não vai?
Por tudo o que vemos aí, já foi!
Peixe grande delata pequenos
Nunca se viu Rodrigo Janot tão bravo como na resposta que deu à reportagem da revista “IstoÉ” que traz uma conversa entre dois procuradores da República: Caroline Maciel e Angelo Goulart Villela.
Ela aponta o clima de terror vivido no MPF nestes dias pré-eleitorais. Segundo diz, o procurador-geral trata como inimigo os que comporiam a base de apoio de Raquel Dodge, uma das candidatas à lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República).
Bravo e destrambelhado. Saiu acusando conspirações para todo lado.
Justo quem, né?
Bem, o fato é que as heterodoxias no Planeta Janot vão das grandes às aparentemente pequenas.
Querem ver?
Na conversa com Villela, Caroline diz que ele pode ser um dos alvos do procurador-geral porque é considerado um eleitor de Raquel.
Bem, o fato é que foi preso uma semana depois, acusado, vejam vocês, de vazar informações da Operação Greenfield para a turma de… Joesley, que o delatou.
Aliás, em Banânia, os grandes delatam os pequenos.
Isso me lembra um trecho de Sermão de Santo Antônio aos Peixes, de Padre Vieira:
“A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.”
Os papeis
Agora aqueles papeis. O primeiro é um breve relatório do inquérito 4483, aquele que diz respeito ao presidente Michel Temer.
Como se nota, lá está escrito: “Nos autos da interceptação telefônica dos investigados no INQ 4483, houve a juntada das mídias das conversas”.
Certo.
Houve a juntada.
Agora olhem o documento seguinte, referente ao Inquérito 4489, que diz respeito ao procurador preso, Villela, e ao advogado Willer Tomaz, que também está em cana.
Eis aí: foi delatado pelo multibilionário que contratava seus serviços — a delação para cima, não para baixo; a delação do peixe grande que come os miúdos.
Por alguma razão, lá se lê: “Nos autos da cautelar de interceptação telefônica referente ao Ângelo e ao Willler, não houve a juntadas das mídias das conversas”.
É mesmo?
Por que, às vezes, se faz “a juntada” e, às vezes, não?
O Brasil certamente terá de dar aula de delação ao mundo, não é?
Contamos com Deltan Dallagnol, com seu porte “longilíneo” e suas “bochechas rosadas”, além dos “óculos de aro fino” para explicar este mistério: por que, na República de Janot, os peixes grandes delatam os pequenos e saem impunes.