Duelo de Tantãs 05/07/2017
- CARLOS BRICKMANN - CHUMBOGORDO.COM.BR
De um lado, com a caneta nas mãos, podendo nomear aliados e liberar verbas parlamentares, o presidente Michel Temer; de outro, com o arco e flecha nas mãos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Ambos lutam contra o tempo. Temer precisa resistir no cargo, até 17 de setembro, às investidas de Janot – nesse dia, termina o mandato do procurador-geral.
Janot precisa derrubar Temer até 17 de setembro, quando terá de abandonar o comando da cruzada.
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No dia 18, ambos terão encontrado seu destino: Janot festejando a glória de derrubar um presidente ou amargando a lembrança dos dias em que seu poder era temido; Temer, lutando pela sobrevivência, talvez afastado do cargo enquanto o Supremo o investiga, ou livre para governar – espera-se que com ministros menos alvejáveis.
Livrando-se da tragédia que ele mesmo semeou, ao assumir o Governo ao lado de tipos discutíveis, Temer poderá ancorar sua estabilidade na economia.
A inflação está abaixo da meta prevista, as exportações deram um salto, a Petrobras recupera produção e rentabilidade, as estatais deram R$ 10,5 bilhões de lucro nos primeiros três meses do ano.
Mas, para se livrar, reduziu as reformas ao mínimo possível. Uma oportunidade perdida.
Janot transformou a denúncia contra Temer num jogo tático, dividindo-a, para, se perder uma, ter outra a atrapalhá-lo.
Nenhum dos dois, obcecados pela vitória, pensou no país. Para ambos, o Brasil é apenas um detalhe.
Dia D
Temer é acusado de corrupção passiva: seria o destinatário dos R$ 500 mil entregues pelos delatores premiados da JBS ao então deputado Rocha Loures.
A entrega da mala de dinheiro foi filmada, e as imagens de Loures correndo com ela até seu carro são inesquecíveis.
Temer pretende defender-se dizendo que não era o destinatário da rica mala e desafiando os acusadores a provar que era.
A defesa de Temer deve ser entregue à Comissão de Constituição e Justiça ainda hoje.
O presidente quer que o plenário decida antes de 17 de julho, quando começa o recesso parlamentar.
Questão de placar
Temer passou ontem algo como 14 horas recebendo parlamentares. Ele precisa de 34 votos na Comissão de 66 deputados para que a denúncia não seja aceita, e tem hoje, calcula-se, entre 25 e 35.
Mesmo que tenha 35, a margem é pequena e ele corre risco. Deputados detestam apoiar quem esteja perdendo.
Por isso, mesmo tendo na Comissão 44 integrantes de partidos aliados, que indicaram ministros e ganharam cargos, luta para se salvar.
No plenário, que votará em julho, salvo imprevisto, o acusador é que tem de conquistar a maioria: são 342 votos.
Se o número não for alcançado, a denúncia estará rejeitada.
Neste momento, Temer tem folga. Até a votação final, entretanto, há inúmeras possibilidades de mudança.
Firula
O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, diz que, em nome da transparência, exigirá que cada deputado anuncie seu voto no microfone.
É jogo para a torcida: os deputados favoráveis a rejeitar a denúncia não precisam votar contra (podem abster-se, ou nem comparecer à sessão).
Se 172 parlamentares não comparecerem, todos os demais podem votar contra Temer que não atingirão o número de 342, e a denúncia será rejeitada.
Jogo bruto
Os acusadores têm ainda, entretanto, muitas armas: se o acordo de delação premiada do doleiro Lúcio Funaro for homologado, não se sabe o que poderá dizer sobre Michel Temer e seus aliados mais próximos.
Há mais: Geddel Vieira Lima, preso nesta semana, estará disposto a delatar?
E Lula?
Quais modificações no cenário político pode causar sua condenação ou absolvição pelo juiz Sérgio Moro?
Reforma que reforma
Esta é uma semana movimentada no Congresso: enquanto a Câmara recebe a defesa de Temer, o Senado estará iniciando a votação da reforma trabalhista.
É esta reforma que levou dirigentes sindicais à oposição: nela é abolido o Imposto Sindical, grande fonte de receita dos sindicatos e suas centrais.
O Imposto Sindical é um dia de salário de cada trabalhador do país, seja ou não filiado a algum sindicato.
E sua existência:
a) desobriga os sindicatos de representar adequadamente a categoria, já que, com ou sem associados, tem uma bela verba à disposição:
b) torna a abertura de novos sindicatos um excelente negócio. Hoje, temos 15 mil sindicatos no país.
Reforma que não reforma
E é em torno desta reforma que se trama um jogo sujo: há quem diga que o presidente Temer se comprometeu com os sindicalistas a vetar o fim do Imposto Sindical; ou aprovar a reforma e, em seguida, distribuir um agrado permanente aos sindicatos e suas centrais, de maneira a compensar a perda do Imposto Sindical.