Uma voz a ser ouvida 19/07/2017
- O ESTADO DE S.PAULO
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, tem se notabilizado nestes tempos espinhosos como uma corajosa voz a favor da moderação e do respeito às instituições.
Sempre que se pronuncia a propósito da grave crise que o País atravessa, o general Villas Bôas acentua sua preocupação com a manutenção da estabilidade institucional – preocupação esta que se justifica plenamente diante da irresponsabilidade que algumas lideranças políticas e parte do aparelho de Justiça têm demonstrado ao longo desse penoso processo.
Em entrevista ao colunista João Domingos, no Estado, o general Villas Bôas lembrou que o Exército “é uma instituição de Estado” e, portanto, “não é ligado a governos”.
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Num regime democrático maduro, seria ocioso enfatizar tal característica, pois as instituições de Estado não podem depender dos humores dos governantes ou reagir conforme a personalidade ou os interesses desta ou daquela autoridade.
Mas de tempos em tempos parece necessário relembrar que o Estado é uma estrutura cujo funcionamento pleno deve ser garantido independentemente de quem esteja no poder, conforme determina a Constituição.
Nenhuma crise pode servir de pretexto para que as instituições se dobrem a interesses estranhos aos da Nação.
Esse é o papel dos homens e das mulheres que estão à frente das instituições hoje no País, isto é, preservar as bases constitucionais do Estado, protegendo-o dos aventureiros.
“Nós, o Exército, estabelecemos como doutrina e como eixo de atuação que vamos nos preocupar com a manutenção da estabilidade, não criar nem provocar movimentos que gerem alguma incerteza e alguma instabilidade”, disse o general Villas Bôas.
“Nosso dever é sempre preservar a democracia e garantir o funcionamento das instituições. Não focamos o curto prazo. Focamos o longo prazo, a continuidade.”
É essa preocupação que deve nortear as ações de todos os demais chefes dos organismos de Estado.
É imperativo resistir ao ativismo e aos apelos de caráter populista que, em nome de uma resolução rápida e fácil dos problemas, relativizam as garantias constitucionais, a ponto de muitas vezes descaracterizá-las.
“Nada fora da Constituição. As instituições é que vão ter de buscar a saída”, afirmou o general Villas Bôas a respeito da crise.
Para ele, “o essencial é que as instituições encontrem os caminhos para a solução dos problemas, em nome da sociedade”.
Não é a primeira vez que o general Villas Bôas vem a público manifestar tais preocupações.
Em maio, ele usou uma rede social para dizer que “a Constituição há de ser sempre solução para todos os desafios institucionais do País” e que “não há atalhos fora dela”.
Ao reafirmar a defesa da ordem constitucional, o comandante do Exército acaba salientando a necessidade de que todos os que têm papel relevante no Estado e no mundo político estejam conscientes de sua responsabilidade neste momento.
O problema, como afirmou o general na entrevista, é que a crise brasileira é de tal monta que o País parece estar “à deriva”, isto é, sem rumo, pois vários líderes políticos e autoridades do Estado parecem empenhados, em primeiro lugar, em assegurar seus nichos de poder, desmoralizando as instituições que representam.
Com tal nível de fragmentação, não surpreende, como enfatiza o general Villas Bôas, que faltem verdadeiras lideranças capazes de restabelecer o mínimo de coesão social e, assim, recolocar o País no caminho do pleno desenvolvimento.
Para o comandante do Exército, o Brasil “perdeu o sentido de projeto e a ideologia do desenvolvimento”, pois “está muito preso ainda a dogmas políticos e ideológicos que não têm capacidade de interpretar o mundo atual” e que “nos aprisionam e nos impedem de evoluir”.
O general Villas Bôas encerrou a entrevista com uma nota de otimismo, ao dizer que espera que as eleições de 2018 revelem essas lideranças que hoje tanto fazem falta.
É a crença de que somente a democracia, com respeito pleno às instituições que a sustentam, é capaz de solucionar a atual crise, por mais grave que seja.