FAMA OU REPUTAÇÃO: POR QUE NÓS FALHAMOS NESSA ESCOLHA? 29/07/2017
- FRANCISCO BALESTRIN
Nunca a fama esteve tão acessível. Nunca foi tão democrática. Blogueiros, youtubers, cantores sertanejos, musas fitness e todo tipo de jovem celebridade tem sua glória legitimada por milhares ou até milhões de seguidores em mídias sociais.
Esses números crescem como o mato que se espalha por vastos campos onde não mais florescem árvores robustas, frutíferas e longevas.
Veja: não quero desvalorizar ou julgar as preferências de ninguém. Mas é curioso notar que, da mesma forma que a fama engrandece, ela também pode arruinar, a qualquer momento, um império de popularidade.
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Passageira e inconsistente, ela ameaça a vaidade.
Nós, brasileiros, temos um fascínio pela fama. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre o reconhecimento de pessoas notórias.
Dias atrás, participei de uma cerimônia na Academia Nacional de Medicina para posse de Giovanni Guido Cerri, que passou a ocupar a cadeira de número 83 da instituição, dentro da secção de Ciências Aplicadas à Medicina.
Não se trata de um mero título. Giovanni é um dos maiores nomes da radiologia do Brasil e do mundo, diretor do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), autor de dezenas de livros e centenas de artigos científicos, entre outras inúmeras realizações.
Temos 400 mil médicos em nosso país, e apenas poucas dezenas deles são escolhidas pela instituição nacional de maior autoridade no campo da Medicina.
São profissionais que representam nossa nação no exterior e que nada devem a outros grandes nomes mundiais. E a mesma coisa ocorre em diversos outros setores.
Eu não me surpreenderia se você dissesse que não tomou conhecimento da eleição do novo membro da Academia.
Ou que não deu tanta importância ao fato.
Também não o julgaria por isso.
Todos nós somos contagiados, em diferentes proporções, por uma patologia, primeiramente, humana: somos atraídos pela mazela.
Nos casos mais despropositados e que não ouso explicar, essa propensão se manifesta até em fotografias com bandidos, políticos corruptos e assassinos.
Soma-se a esse distúrbio o sentimento hipertrofiado de cachorro vira-lata.
Quantos brasileiros precisam sair do País para conseguirem trabalho à sua altura, para ganharem visibilidade e serem reconhecidos por seus feitos?
Qual o grande político brasileiro atual?
Qual o grande cientista?
A atriz de mais expressão?
Essas pessoas certamente existem, mas não ganham notoriedade em sua própria terra de origem.
Muitas vezes, passam a ser valorizados somente quando provam seu valor internacionalmente.
É o caso de nossa seleção brasileira, que, apesar de notória, revela estrelas chanceladas, inicialmente, em clubes estrangeiros.
O mesmo ocorre com o empresário, o cientista, o autor, o professor, o artista...
Por que nossas pessoas notáveis precisam sair do país para ganhar prestígio?
Sentimo-nos cansados e apáticos diante das barbaridades, e assim não nos apercebermos do movimento positivo que também nos cerca.
Criamos quase que uma paixão pela transgressão, perdendo a visão para o que produzimos de bom, inovador e feliz.
O escritor e historiador escocês Thomas Carlyle descreve que “a fama não é uma prova segura de mérito, mas apenas uma probabilidade de tal: é um acidente, não uma propriedade de um homem”.
Complementando esse pensamento, eu diria que o produto final de um talento genuíno, do mérito e da conquista de reputação chama-se notoriedade - esta sim, sustentável, fértil e duradoura.