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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O ENIGMA PSDB
04/08/2017 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

Vou aqui tentar destrinchar, leitor amigo, um enigma chamado “PSDB”. Será. Por que algumas figuras do partido decidiram, como direi?, privatizar a crise que atingiu o governo com a patuscada da holding moral chamada “J&J” — Janot e Joesley?

Não há resposta simples para isso. Nem complexa. Às vezes, a estupefação é o único lugar em que se pode estacionar a racionalidade.

Mas essas são questões de fundo. Quero começar pelos dados mais recentes da equação exótica.


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Leio que o senador Tasso Jereissati (CE) permanece — por enquanto, “sine die”, sem prazo definido — no comando do partido, num entendimento que envolveria lideranças da legenda como o senador Aécio Neves (MG), Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e outros.

Então vamos disparar o mecanismo do pensamento.

Leio ainda que Aécio foi a voz mais clara em favor da manutenção do partido na base de apoio.

Acrescento ao arranjo o fato de que, na sua primeira interinidade, Tasso foi um pouco além do que lhe recomendaria a prudência no esforço para o partido desembarcar do governo.

Não se viu tamanho engajamento seu (e olhem que procurei) em favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Alguns são reféns de Janot. Eu sou refém da lógica. Parece-me, então, que Aécio venceu a parada partidária nesse particular e que o tema “desembarque do PSDB” já tema não é.

É bem verdade que a manchete do Globo Online, neste momento (pouco antes da 1:00 desta sexta) é esta:

“Miriam Leitão: Tasso teria votado a favor da denúncia se fosse deputado”.

Foi o que ele disse ao programa da jornalista na GloboNews, que foi ao ar ontem, quinta, às 21:30.

Dever ser algo inédito na história de um jornal de alcance nacional — ou, mais ampla e universalmente, carioca!!!.

Ainda que na versão online, sempre mais rápida.

Então um senador teria votado contra Temer se deputado fosse?

Uau!

A expectativa de muitos é a de que esta segunda interinidade dure até dezembro.

Digam-me cá: Tasso vai ser presidente de um partido inteiro ou de menos de meio? O PSDB tem 47 deputados. Nada menos de 21 votaram contra o relatório de um também tucano, Paulo Abi Ackel (MG), que recomendava o arquivamento da denúncia.

Posicionaram-se, portanto, contra Temer. Outros 22 acataram o texto, alinhando-se com o presidente, e quatro não compareceram, o que também era do interesse do governo.

E que se note: o sr. procurador-geral — a letra “J” da holding “J&J” — não conseguiu apresentar uma miserável evidência da acusação que faz.

Ele próprio já admitiu que está denunciando algo impossível de ser provado.

E, por alguma razão, ele o diz em tom meio heroico.

Há comportamentos estranhos no país ultimamente.

Se eu acreditasse em abdução, juraria que certas reputações foram chipadas por ETs que querem nos destruir…

Dos 21 deputados que votaram contra Temer, 11 são de São Paulo, onde o partido tem uma bancada de 12.

Um deles é o líder, Ricardo Trípoli, que, suponho, deve renunciar ao comando da bancada, não?

Aquele seu encaminhamento contra o relatório de um também tucano foi um dos momentos mais patéticos da patuscada inaugurada pela dupla ”J&J”.

E por quê?

Ora, ele alegou, sei lá, razões que, pareceu-me, tentaram parecer patrióticas.

E veio com a conversa de que deixar o governo não corresponderia a abandonar as reformas…

Como diria Lula antes do banho de gramática que lhe deram Antonio Candido e Marilena Chaui, “Menas, deputado! Menas…”

Digamos que, de fato, os tucanos continuassem mobilizados em favor das reformas…

De que adiantaria isso com um governo desarticulado, atropelado já pelo calendário eleitoral?

Entendo que, ao votar, um deputado e um senador estão moralmente obrigados a pensar: “O que aconteceria se todos fizessem como eu?”

E se a Câmara tivesse seguido os 21 do PSDB?

Em vez da calmaria de hoje, com o dólar pouco acima de R$ 3,10, teríamos a festa dos especuladores.

Se há nisso cálculo eleitoral — distanciar-se de um governo impopular —, é errado e precoce.

Se há a convicção de que o MPF está certo em relação a Temer, então os valentes tucanos têm de estender a todos os seus implicados a… presunção de culpa.

Trípoli tinha uma saída-limite na quarta: “O nosso partido não fechou questão; cada deputado votará de acordo com a sua consciência. Libero a bancada, mas reconheço (A MENOS QUE O DEPUTADO ME CONTRADITE COM EVIDÊNCIAS) que o MPF não apresentou a prova…”

Em vez disso, ele encaminhou o voto contra o relatório que pedia o arquivamento da denúncia e foi seguido por apenas 44,6% dos deputados (21 de 47).

No grupo dos 21, há 11 (52,38%) paulistas, o que corresponde a 91,7% da bancada do partido em São Paulo.

Tasso vai ter de decidir se pretende exercer a presidência de menos da metade do partido, sendo, no cargo, o que Trípoli é na liderança: ele, um presidente que não preside; o outro, um líder que não lidera.

Caso a entrevista de Tasso a Miriam Leitão não seja o último suspiro dessa pauta aloprada, aí as coisas, que já eram complicadas, vão… se complicar!!!

Mais: dado que os tucanos certamente não encontrariam espaço para disputar corações, mentes e clichês com os petistas, a consequência de sua saída seria o aumento da importância relativa do tal “centrão” e a clara perda de influência do PSDB, que não vive seu melhor momento.

Temer e o PSDB; o PSDB e o PSDB

É claro que Temer há de buscar a recomposição com o conjunto do tucanato.

É importante para as reformas que estão por vir. Aliás, há que se tentar ganhar, segundo a minha contabilidade, que não inclui o PSB, os 87 deputados que votaram contra o governo.

Pode até ser que o presidente consiga restabelecer as pontes necessárias para manter o PSDB na base, com menos defecções.

É habilidoso nessa área.

Fosse eu tucano, estaria menos preocupado em saber se o partido vai se entender com o governo.

A questão relevante é saber se os tucanos conseguirão se entender… com os tucanos.

E, meus caros, não há jeito.

Desde São Paulo — o de Tarso —, flauta tem de soar como flauta, e cítara, como cítara.

Ou o povo de Deus se atrapalha.


  

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