Eleições em tempos de cólera 11/08/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Sim, sou avesso aos “distritão” porque os partidos deixam de ter importância. E não acho isso bom. Aliás, pergunto: como, nesse caso, falar em “fidelidade partidária”? Cada deputado vira dono do seu voto e faz dele o que quiser, não? A rigor, não se distingue muito da candidatura independente.
O sujeito é uma celebridade? Equilibra bola na ponta do nariz? Põe os indicadores frente a frente e gira um dedo no sentido horário e outro no sentido anti-horário? É craque em trava-línguas? Já deixou vazar nudes e depois chamou a Polícia? Está pronto para ser candidato.
PUBLICIDADE
Eu também sou contra o financiamento público de campanha. Divergência principal: vai se pegar dinheiro do Orçamento para fazer o futuro carregar o passado.
Como o dinheiro será dividido? Terá de levar em conta, de algum modo, as eleições de 2014. Mas o mundo mudou daquela data para cá.
A legenda que conseguisse, com os seus recursos, reverter a fortuna, bem, que o fizesse. Mas com dinheiro público?
Sim, sou contra o distritão e o fundo público. Mas também sou contra os argumentos falaciosos e a hipocrisia.
Noto que, majoritariamente, os coleguinhas da imprensa estão entortando o nariz para as duas coisas.
Boa parte deles, no entanto, aplaudiu a decisão absurda do STF que proibiu doação de empresas a campanhas.
Sem um nem outro, faz-se o quê? Bem, vamos chamar o “síndico” da nossa tragédia: “Marcola”.
Cuidado com o disco voador!
Ah, os arquivos estão aí. Fiquei falando praticamente sozinho contra a proibição da doação de empresas.
Nessas horas, já disse, jornalistas deveriam se colocar no papel de estudantes do Enem fazendo redação: não basta criticar! É preciso apresentar solução.
VOTO EM LISTA
É evidente que, sem doações de pessoas jurídicas, o fundo haveria de ser público. E será. A última coisa que se pode fazer é manter o voto proporcional, como é hoje, ou que se diga como esse dinheiro seria distribuído.
Aliás, a questão também é pertinente no caso do distritão, mas menos deletéria: OS PARTIDOS ACABARIAM FAZENDO ESCOLHAS MAIS RESTRITIVAS, A SABER: DIMINUIRIAM O NÚMERO DE CANDIDATOS PARA CENTRAR FOGO NOS VIÁVEIS. OU ESTARIAM JOGANDO DINHEIRO FORA.
No caso do voto proporcional, essa seletividade não é necessária: todo voto acaba indo para o partido partido.
Ora, com fundo público, a única coisa que faz sentido é o voto em lista.
Mas aí os moralistas de meia-tigela gritam: “Ah, isso só vai ajudar os acusados de corrupção”.
É uma besteira! As legendas sempre lembrarão os falsos varões de Plutarco e as falsas vestais dos partidos adversários.
CRÍTICAS
E por que a solução óbvia não emplacou? Ora, porque diziam que isso só beneficiaria os atuais parlamentares e não levaria à renovação.
Qual é o exato oposto do proporcional? É o distritão.
E qual é a crítica que leio agora?
“Ah, isso só vai reforçar as lideranças tradicionais…”
Olhem aqui: não gosto desse modelo, mas essa crítica é farisaica. Acusar alguém que tem votos de atrapalhar a ascensão de quem não tem é argumento de imbecil ou de vigarista.
BOM CAMINHO
O bom caminho, pós-burrada do STF, sempre consistiu em escolher o voto em lista para 2018 e o distrital-misto para 2022.
Uma emenda deveria restabelecer, desde já, para aquele ano vindouro, a doação de empresas a campanhas, tomando o cuidado de observar no texto: “na forma da lei”. E haveria quatro anos para definir tal lei.
Reitero: dadas três formas — proporcional (como é hoje), distritão e lista —, a pior opção é ficar tudo como está.
Um candidato que não recebesse a sua cota do fundo público poderia até mesmo pleiteá-la na Justiça, ainda que não contasse nem com o voto da própria mãe…
OUSADIA
Ora, se não querem o financiamento público nas atuais circunstâncias, então os críticos digam o que pretendem. Se rejeitam lista e distritão, idem.
Se vão ficar com o proporcional, parem de reclamar do Tiririca e apontem alguma forma viável de distribuir a grana de campanha…
Ah, sim: formou-se uma frente de partidos contra o distritão que reúne políticos do PT, PC do B, PSOL, PR, PRB, PHS, PSD, PSB e PDT.
Reitere-se: é uma frente de membros desses partidos, não das legendas propriamente.