A INTERNAUTA MILITANTE 14/08/2017
- PERCIVAL PUGGINA*
A moça tem um cortejo de seguidores e funciona, naquele grupo, como uma professora de História do Brasil que preferisse o Paleolítico.
Ataca as Grandes Navegações, as usinas hidrelétricas, o capitalismo e o "brutal bloqueio" norte-americano a Cuba.
Ela descobriu que os coxinhas tiraram a Dilma para "botar o Temer lá" porque ele é o chefe da quadrilha e a Dilma ia estourar o ponto.
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A cada frase dessas, a galera esgota o estoque daquelas figurinhas "emojis" com palmas, socos, braços musculosos, polegares erguidos, sorrisos e corações.
Juro que vi até um burrinho, mas foi coisa de alguém que clicou errado.
Na opinião dela, o Temer tem que sair. É um imperativo moral. Tão imperativo moral quanto a prisão de Sérgio Moro, a absolvição imediata de Lula em todos os processos, a execução de Eduardo Cunha, a volta de Dilma, a proscrição da Rede Globo e a capitalização da Carta Capital em joint venture com o BNDES.
Posta diante da questão - "Tirar o Temer para pôr quem? - ela estufa o democrático busto e pede eleições gerais.
Grande ideia! Para funcionar, há que: 1º) mudar a Constituição; 2º) alterar todos os prazos já definidos; 3º) redigir e aprovar as leis complementares necessárias para regrar o pleito; 4º) feito isso, esperar que o TSE redefina as muitas questões que lhe cabe normatizar a cada eleição; 5º) obter do governo a liberação dos tais R$ 3,6 bi ditos imprescindíveis ao financiamento público da campanha.
Sobre o fulano que vai presidir a República durante esse tempo eu só sei que se não for "companheiro" a tal internauta estará na rua com um cartaz "Fora fulano".
Se o Congresso Nacional abraçar a solução proposta pelo elevado discernimento político da moça, é certo que a eleição fora de prazo vai acontecer realmente fora de prazo, lá por 2020.
Fica a dica para Maduro, que está muito a fim de evitar uma eleição direta censitária.
Por falar nisso, ela é fã do Maduro. Encanta-se com aquele jeito de Mussolini de opereta e com o vocabulário "bolivariano" de 500 palavras.
E está indignada (deve ter ouvido orientações de Gleisi Hoffmann) com as críticas que os coxinhas fazem ao camarada ditador da Venezuela sem terem ido lá para ver o que "realmente está acontecendo".
No post seguinte, de modo coerente, recomendou ler o que se escreve lá fora sobre o Brasil.
Tentei explicar que a Câmara dos Deputados não julgou e menos ainda absolveu Michel Temer; esclareci que cabia àquela Casa apenas definir se convinha ou não ao país que o presidente viesse a ser julgado pelo STF naquele momento.
E afirmei que novos fatos ou diferentes circunstâncias poderão, no futuro, recomendar decisão diferente.
Foi a conta! Recebi um página inteira de emojis malcheirosos e fui bloqueado.
Não consegui dizer que em 2005 e 2006, quando estourou o mensalão e a Orcrim se tornou conhecida, 33 pedidos de impeachment de Lula foram protocolados e arquivados na Câmara dos Deputados.
Nenhum de parlamentar.
Por quê?
Os políticos sabiam que havendo eleição logo adiante, um processo de impeachment complicaria a cena eleitoral, administrativa e econômica.
As responsabilidades criminais seriam tratadas na Ação Penal 470, no devido tempo e no foro adequado. O que de fato aconteceu.
Quem quer o circo pegando fogo está noutro lugar e com a vida ganha.
...
*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.