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Curto&Grosso O que ainda será manchete

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Parte do PSDB tenta cantar Dalva de Oliveira, mas é só ridícula, desleal e, lamento!, golpista
18/08/2017 - BLOG DE REINALDO AZEVEDO

O programa político do PSDB, que foi ao ar nesta quinta, é uma das peças mais ridículas, mais covardes e mais desleais da história dos partidos políticos no Brasil.

Pior: fica evidente a disposição de quem fez o troço de parecer aquilo que essencialmente não é.

Em 10 minutos, o verbo “errar” é conjugado 13 vezes, como notou o jornalista Felipe Felix, da BandNews FM — oito vezes em um minuto e meio.


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Nem Dalva de Oliveira, em “Errei, sim!”, expressou tamanha compulsão confessional, quando respondia ao marido, Herivelto Martins, em música de Ataulfo Alves: “Errei sim, manchei o teu nome, mas foste tu mesmo o culpado…”

Ah, claro, num trabalho de autopuxação de saco, algo comum nesses casos, os que encomendaram essa peça patética apontam os acertos do partido, que são verdadeiros no caso: o Plano Real e o controle da inflação, criação do Bolsa Escola, genéricos, Lei de Responsabilidade Fiscal… A cada lembrança, no entanto, lá vinha a contradita: “Mas o PSDB errou”.

E qual foi o erro? Por incrível que possa parecer, o vídeo não diz.

Um inimigo do partido não teria feito melhor.

Sabe-se apenas que o partido está errado, admitindo e assimilando essa voz genérica, segundo a qual todos os partidos são iguais.

Bem, “o PSDB errou, o PT errou, o PMDB errou…”

Claro, trata-se de uma alusão velada às acusações que faz o Ministério Público Federal.

Como os alvos nem mesmo são citados, ficam também sem direito de defesa.

Pior: já estarão, então, condenados.

É um lixo moral.

Notável: as principais lideranças do partido não foram consultadas sobre absolutamente nada.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino, que já foi chamado de “coronel urbano”, não viu mal nenhuma em ser um “coronel rural” mesmo.

Decidiu tudo sozinho, pôs seu fígado na tela, expressou as próprias convicções e deixou claro o que entende por um partido político.

Ele e Ciro Gomes, que será candidato à Presidência pelo PDT, já foram unha e carne.

Ciro, referindo-se ao então padrinho, chorou de emoção certa feita, em entrevista antiga.

Choro viril, como convém aos Gomes de Sobral.

Depois eles brigaram.

Que eu saiba, estão em fase de reaproximação.

Entendo assim o programa que foi ao ar:

“Quem está comigo endossa essa estrovenga; quem não está que reaja”.

Se o clima ficar muito ruim, ele pode, uma vez mais, voltar-se à máxima de que só se é universal honrando a própria terra.

E propõe, então, de novo, a solução cearense, como em 2002, quando desertou das hostes tucanas, negando-se a apoiar José Serra, para ficar com… Ciro.

Se o programa é covarde com os membros do partido, é ainda pior com o governo Temer, a cuja base pertence, ocupando quatro ministérios: Relações Institucionais, Relações Exteriores, Cidades e Direitos Humanos.

Segundo o programa, “o Brasil está parado há quase três anos por conta de uma crise política que parece não ter fim”.

E, antes, ouvimos esta pérola:

“Depois da ditadura, os brasileiros elegeram quatro presidentes pelo voto direto [e aparecem as fotos Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma]. de o Brasil elegeu quatro presidentes pelo voto direto. Dois deles saíram por impeachment [e desaparecem as fotos de Collo0r e Dilma]. Metade dos presidentes não completou o mandato. Nenhum deles do PSDB. Depois do mensalão [dá-se destaque à figura de Lula], depois do petrolão [destaca-se Dilma], temos mais um presidente [ressalta-se a imagem de Michel Temer], enfrentando grandes dificuldades para governar e unir os brasileiros]. Será que basta mudar de governante?”

E se dá o gancho para defender o parlamentarismo, sistema que defendo, sim, senhores.

Mas não num vídeo tóxico como este que o PSDB leva ao ar, em que se tem o topete de, à moda Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, atacar “os políticos” e a “velha política”.

A propósito: o que há de novo num ataque sorrateiro como esse?

Mais: Tasso é política nova ou velha?

E o sobrenome Jereissati?

A reação no PSDB é grande.

Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), divulgou um duro texto no Fecebook.

Bruno Araújo, ministro das Cidades, protestou no Twitter.

Observem: em partido nenhum do país se aprovaria um programa de TV ignorado pelas principais lideranças da legenda.

Há a democracia e a democracia de Tasso.

Que o PSDB seja parlamentarista e tenha decidido, agora, tirar sua proposta do papel, eis algo digno de aplauso.

Que o partido vá a público para demonizar a política, os políticos e governo Temer, tentando se descolar da crise, mas pela via da pusilanimidade, ah, meus caros, aí não dá!

Irresponsabilidade

Com a reforma política em curso, com a da Previdência a gerar na base temores justos e covardias incompreensíveis, com a tributária por vir, um dos partidos da base, o segundo em número de ministério, decide acusar o governo, também este em curso, de ser comprador de deputados e senadores?

Ele os chama de vendidos?

O que pretende Tasso Jereissati?

Tornar impossível a permanência dos tucanos no governo?

Ele quer aumentar o peso relativo de que o chamado “Centrão” já dispõe?

Mais ainda: dado o caráter, então, corrupto dos membros do Parlamento, como é que se propõe aos brasileiros que aceitem o… parlamentarismo?

É um despropósito.

Derrotados, mas não conformados

Os que tentaram depor Michel Temer foram derrotados.

Como vemos, não se conformaram.

E parecem dispostos a encruar a batalha.

Se os tucanos que não se sentem representados por essa piada grotesca não se manifestarem, deixarão que os tolos da “não-política” tomem conta do partido.

Se há no PSDB quem alimente a esperança de que pode se aproveitar das dificuldades enfrentadas por Temer para conquistar votos, bem, cumpre tirar o tucano da chuva.

A coisa não será assim tão fácil.

Se é que o PSDB vai resistir.

Ah, sim: o que se viu na TV está mais para corvo golpista do que para tucano da democracia.


  

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