O PSDB tenta pacificar as duas alas. Ou: Oportunismo não é princípio; traição não é coerência 24/08/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
O PSDB realiza nesta quinta uma reunião, na sede nacional do partido, com os dirigentes regionais. Os senadores Aécio Neves (MG), presidente afastado, e Tasso Jereissti (CE), presidente interino até dezembro, estarão presentes.
Como afirmei, deve-se fazer a opção pelo equilíbrio instável. E depois?
A ver.
PUBLICIDADE
Se a legenda realmente decidir no fim do ano quem será o candidato à Presidência, aí este passa a ter peso determinante nas escolhas, pouco importa quem esteja na direção.
Aécio, uma das lideranças que se opõem à saída do PSDB da base do governo, e Tasso, a principal voz da corrente oposta, conversaram ontem.
Ficou acertado que os ministros tucanos que integram o governo Temer não serão alvos de hostilidade.
Então está tudo pacificado?
É evidente que não.
Não custa lembrar que esse era, desde sempre, o acordo.
O senador cearense não foi feito presidente da sigla para comandar o rompimento com o governo.
Essa é uma tese que ele abraçou, estimulado por certo espírito que se quer juvenil dos ditos “cabeças pretas” do partido, a ala que, ao fingir que oportunismo é princípio, faz de conta que traição é sinônimo de coerência.
Coerência com o quê?
Essa história de que a ala do tucanato que nada tem a ver com a Lava Jato não precisa arcar com peso das escolhas partidárias é uma farsa.
Não sustenta um voo até a esquina.
Querem ver?
Na denúncia oferecida contra Aécio, Rodrigo Janot afirma que a JBS repassou R$ 60 milhões ao senador em “vantagem indevida”.
É mesmo?
Bem, o dinheiro foi registrado na Justiça Eleitoral, e pelo menos metade foi repassada ao comando da sigla para financiar campanhas país afora.
Se toda doação, como quer o procurador-geral, é uma forma de propina, então ninguém pode sair atirando pedras, certo?
Se os “cabeças pretas” acham que se deve levar a sério tudo o que diz o MPF, convém começar a escarafunchar as próprias culpas.
A verdade é que toda essa conversa não passa do mais absoluto oportunismo eleitoral.
Esses tucanos jovens — alguns nem tanto, não é, senador Ferraço? — estão é se deixando pautar pela militância mais virulenta das redes sociais e sua infinidade de robôs.
Deveriam, isto sim, é verificar o que diz o povo real, o de verdade, que tem mais o que fazer do que babar rancor e ignorância no Facebook.
Se alarido em redes se traduzisse em força efetiva, milhões já teriam ido às ruas contra o governo Temer, parte considerável dessa turba sob a liderança de Jair Bolsonaro.
E onde está toda essa gente?
Mais: os tucanos realmente acham que conseguiriam se afastar do governo Temer, mas “votar em favor das reformas”?
Ora, o rompimento seria uma aposta na não-reforma.