Delação do patriota Funaro chega ao STF; lá vem Janot com a ladainha: Quero Temer fora! 30/08/2017
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Ai, ai, vamos lá.
Já está com o ministro Edson Fachin o acordo de delação premiada que Lúcio Funaro fechou com Rodrigo Janot, procurador-geral da República.
Como vocês devem se lembrar, Janot abriu uma espécie de concorrência entre o dito “operador” e o ex-deputado Eduardo Cunha.
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Quem dissesse a coisa mais interessante — e o interesse único, está claro, era e é, nesse caso, atingir Michel Temer — levaria o prêmio, o galardão.
Parece que Funaro venceu essa espécie de licitação, que pode ser tudo, menos moral.
É claro que eles poderiam nos surpreender. Mas não vão.
Fachin deve homologar a delação e, assim, mais um bandido, condenado a mais de 15 anos de cadeia, vai ficar na mamata.
O ministro precisa correr. E ele correrá.
Homologada a delação, Janot deve, então, entregar a nova denúncia contra o presidente Michel Temer.
E, bem, não se deve esperar muito pudor nessa história toda, né?
O Jornal Nacional de segunda-feira, diga-se, foi um bom exemplo do estado das artes.
Em cinco minutos, entre 33:09 e 38:09, nome e cargo — “Rodrigo Janot, procurador-geral da República” — foram citados cinco vezes.
Encadearam-se quatro notícias que tinham o homem como protagonista: denúncia contra Romero Jucá, denúncia contra Renan Calheiros, autorização do STF para investigar uma acusação contra José Serra e, finalmente, a presença “dele” no Globo, num seminário contra corrupção.
A gente chega a notar um certo esforço técnico dos apresentadores para repetir o nome com entonações diversas.
Uma nota: antes disso tudo, noticiaram-se algumas coisas sobre o governo.
Sabem quem falou com otimismo sobre a economia?
Não foi o presidente Michel Temer, é claro!
Foi ao ar a fala do ministro Henrique Meirelles (Fazenda).
Temer só voltaria a ser lembrado na última notícia sobre o Grande Janot.
Já vamos ver em quais circunstâncias.
Não descarto aprender alguma coisa com procedimentos assim tão inovadores.
Muito bem.
Depois de participar do seminário, o procurador-geral concedeu uma rápida entrevista.
A repórter da Globo quis saber: “O senhor deve, sim, apresentar uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer?”
Fiquei em dúvida se cabe aí um ponto de interrogação.
E o Ameaçador-Geral da República respondeu:
“O Ministério Público não fala o que vai fazer. O Ministério Público faz e depois, se houver dúvida, explica por que o fez. O que eu posso dizer é que não deixo de praticar ato de ofício em razão de estarem faltando 20 dias para terminar meu mandato”.
Observo, de saída, ao analisar a fala, que apresentar uma “denúncia” é uma das funções do procurador, é uma de suas prerrogativas.
Sim, quando o fizer, ele o fará por meio de um “ato de ofício”.
E se não apresentar?
Estará, então, prevaricando?
É claro que não!
Há uma diferença gigantesca entre um procurador-geral poder apresentar uma denúncia, que se expressa por ato de ofício, e ter de apresentar uma denúncia.
E é um pouco constrangedor ter de lembrar isso.
Adiante.
Jápubliquei a integra da decisão do então ministro Teori Zavascki, que mandou prender Lúcio Funaro, a pedido de… Rodrigo Janot.
Como é praxe nesses casos, Zavascki repete os termos da petição do procurador.
Sobre o mais novo herói com o qual fez acordo, escreveu Janot há pouco mais de um ano:
– “Cuida-se de verdadeira traição ao voto de confiança dado a ele pela Justiça brasileira”;
– [Funaro] é “uma pessoa que tem o crime como modus vivendi (meio de vida), que já foi beneficiado com a colaboração premiada no mensalão e, no entanto, prosseguiu delinquindo”;
– [Funaro é dado a ] “práticas reiteradas e habituais de crimes graves, sem qualquer freio inibitório, [que] colocam em risco, concretamente, a ordem pública”;
– “Ademais, a ousadia de Funaro é conhecida no meio em que circula e ficaram ainda mais evidentes no episódio (…) em que ameaçou de morte um idoso de mais de oitenta anos (Milton Schahin) em razão de disputa econômica. Ora, se Funaro é capaz de ameaçar de morte um ancião em razão de disputas comerciais, não há dúvidas de que não se rogará a prejudicar a investigação sobre os fatos que o incriminam”.
O procurador-geral lembrou ainda que Funaro ameaçou botar fogo na casa de um desafeto “com as crianças dentro”.
Pois é…
O “operador” fechou o acordo de delação há alguns dias.
O que quer que tenha dito a Janot sobre Michel Temer ou qualquer outro não passou por nenhuma apuração.
Mas sabem como é…
O homem ainda tem 18 dias para brincar com suas flechas de bambu…
Se a sua delação não foi monotemática — atingir apenas Temer —, outras figuras da República, muito especialmente do PMDB, devem estar no cardápio.
Também elas serão alvos de denúncias?
Ousaria dizer que não.
Temer virou a obsessão de Janot.
Janot, que demonstrou não saber exatamente o que é um ato de ofício, quer que acreditemos que ele tem a obrigação funcional de denunciar o presidente da República, escorando-se num tipo como Lúcio Funaro.
Será que, quando eu descobrir o “verdadeiro jornalismo” isento, também aplaudirei um tipo como… Janot?