Há um ano, o Brasil se livrava definitivamente de Dilma Rousseff. A conclusão do processo de impeachment, em agosto de 2016, fechou um dos capítulos mais tresloucados da história nacional, representado por uma presidente que se julgava exímia administradora, mas que, em menos de seis anos, condenou o País a um retrocesso econômico de duas décadas – e será necessário outro par de décadas para a plena recuperação, isso na hipótese de o eleitor ter aprendido a lição e não se deixar mais seduzir por um discurso irresponsável como o que elegeu e reelegeu Dilma Rousseff.
Se o Brasil deu a sorte de se ver livre de Dilma antes que ela pudesse completar sua grande obra, o mesmo não se pode dizer de seu partido, o PT.
Como se sabe, no momento em que se sacramentava o impeachment, em 31 de agosto de 2016, uma vergonhosa manobra regimental do então presidente do Senado, Renan Calheiros, em dobradinha com os petistas e com o aval de Lula da Silva, permitiu ao então presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, manter os direitos políticos de Dilma ao mesmo tempo que a cassava – uma aberração legal tão evidente que sua constatação dispensa consulta à Constituição.
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Assim, a ex-presidente pode perfeitamente candidatar-se a qualquer cargo eletivo, mesmo tendo sido deposta da Presidência por crime de responsabilidade.
O problema é que, tendo destruído a economia do País, Dilma é um ativo tóxico em qualquer palanque. Conforme mostrou recente reportagem do Estado, nem o PT sabe o que fazer com a presidente cassada.
É claro que os petistas que não gostam de Dilma a criticam pelos motivos errados.
Para eles, a ex-presidente deveria ter interferido na Polícia Federal para impedir que a Lava Jato crescesse e que os escândalos de corrupção derivados das investigações atingissem em cheio o PT e seus principais dirigentes.
Além disso, essas alas petistas acreditam que Dilma é um problemão para a candidatura de Lula da Silva à Presidência em 2018.
Segundo o raciocínio dessa turma, Lula, como se não bastasse ter de provar que é a “viva alma mais honesta deste país”, embora seja réu em diversos inquéritos por corrupção e já tenha sido condenado em um deles, ainda precisa convencer os brasileiros de que a profunda crise econômica legada pelo governo de Dilma Rousseff não é fruto da enorme incompetência de sua pupila.
Trata-se de uma tarefa hercúlea até mesmo para o inegável talento demagógico do demiurgo de Garanhuns.
O fato é que Dilma paira sobre o PT como uma assombração. Especulou-se, nos últimos tempos, que ela poderia se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Sul ou pelo Rio de Janeiro, mas muitos petistas acreditam que essa candidatura seria prejudicial ao partido, não apenas porque as chances eleitorais de Dilma seriam remotas, atrapalhando candidatos mais fortes, mas principalmente porque colocaria em evidência, na campanha, aquilo que o PT quer esconder, que é justamente o legado da desastrada presidente.
Oficialmente, o partido mantém o discurso de apoio a Dilma.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que “Dilma é a grande liderança que encarna a injustiça contra o PT” e que, se decidir se candidatar em 2018, “vai ter muito voto”.
Mas o próprio Lula tem dificuldades em lidar com sua criatura.
Na tal “caravana” que está empreendendo pelo Nordeste, em escancarada campanha eleitoral antecipada, Lula já teve de admitir que Dilma cometeu erros na condução da política econômica, ainda que atribua a crise a sabotagens do deputado cassado Eduardo Cunha, quando este presidia a Câmara.
Conforme reportagem do Estado, Dilma já disse a amigos que, no momento, está inclinada a não se candidatar a nada, pois prefere as viagens internacionais, para denunciar o tal “golpe” de que se diz vítima, e a convivência com artistas e intelectuais.
Decerto Lula está torcendo para que Dilma se decida a desistir da política e se limite a frequentar reuniões lítero-musicais e a andar de bicicleta.
Afinal, se ela resolver subir no palanque, os eleitores haverão de se lembrar do que ela fez ao País – e Lula terá dificuldade para esconder o fato, incontestável, de que é ele o pai da criança.