O que será desse pessoal sem Lula? 01/09/2017
- HELENA CHAGAS
Somente o historiador do futuro, sem ódio, amor e outras paixões, poderá explicar a real dimensão do papel do ex-presidente Lula na história republicana pós-ditadura militar.
Lula foi candidato em cinco das sete eleições presidenciais diretas já realizadas após a democratização. Perdeu três (1989, 1994, 1998), venceu duas (2002, 2006) e foi o principal cabo eleitoral da vitória em mais duas (2010, 2014).
Ainda hoje, às vésperas de uma nova eleição, sua presença - ou não - no cenário é o referencial para estratégias políticas e eleitorais, o divisor de águas em torno do qual as forças políticas vão se agrupar.
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É por isso que meio mundo está angustiado com a indefinição sobre a participação de Luiz Inácio lula da Silva no pleito presidencial de 2018 - e não só as forças ligadas ao PT e seus satélites, que vêem na candidatura Lula a diferença entre ter a chance de ganhar ou perder com quase certeza.
Incertos quanto ao sucesso dos recursos judiciais do ex-presidente à segunda instância contra a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro, petistas e aliados sabem que é preciso, ao mesmo tempo, trabalhar na candidatura Lula como se não houvesse amanhã - até porque o patamar entre 20% e 30% nas pesquisas é sua melhor defesa - e ter também um plano B.
Por isso já se vê, aqui e ali, certa movimentação em torno de nomes como Fernando Haddad e de alianças com ex-parceiros como Ciro Gomes e a ala oposicionista do PSB.
Para esse campo, a ausência de Lula seria uma espécie de catástrofe, como um furacão ou um tsunami.
Mas seria um acidente previsto pelos serviços de meteorologia, que vai encontrar a todos com a bóia em volta do pescoço, preocupados apenas em sobreviver, cada um a seu modo, até 2022.
A desgraça poderia até unir a maioria das forças no resgate do que sobrou da esquerda.
Diferentemente do que muita gente imagina, porém, a hipotética ausência de Lula na cédula de 2018 também terá consequências dramáticas à direita.
É verdade que, acostumados a ter o ex-metalúrgico como adversário nos anos 90, como fato consumado e aliado conjuntural no início dos anos 2000 e, agora, como inimigo número 1, boa parte do establishment econômico e das elites vão comemorar sua condenação em segunda instância, se ela ocorrer.
Entre os políticos e partidos que brigam hoje pela hipotética vaga no segundo turno para disputar com o ex-presidente, será forte o abalo.
Ficarão órfãos todos aqueles que vêm construindo estratégias e candidaturas em torno da imagem do anti-Lula - o que equivale à torcida do Flamengo no campo da direita.
Qual o político ambicioso, egresso das forças conservadoras, ou mesmo centristas, que não tentou polarizar com o ex-presidente nos últimos anos?
O que será de João Doria, Jair Bolsonaro e outros que passam 99% do tempo chamando Lula para a briga?
Correm o risco de esvaziamento e vão ter que buscar outra briga.
Doria, que vem cultivando diariamente uma rixa pessoal com Lula, na tentativa de mostrar que seria o único capaz de derrotá-lo, pode perder força na disputa com Geraldo Alckmin dentro do PSDB e nem ser candidato.
Bolsonaro, outro exemplo, também vai ter que desviar o canhão para outro alvo.
Sem Lula no páreo, seus adversários terão que ter, acima de tudo, um discurso. Uma proposta para o país, quem sabe.
Um projeto com começo meio e fim, que dialogue com quem está mais interessado em emprego, distribuição de renda, educação, saúde e segurança do que nos bate-bocas entre os políticos...