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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Afasta de mim esse cálice
06/09/2017 - CARLOS BRICKMANN - CHUMBOGORDO.COM.BR

Um sábio político mineiro, Magalhães Pinto, dizia que política é como nuvem: você olha, está de um jeito, olha de novo, está de outro. Ladroeira também. Há surpresas todos os dias; e nunca é para mostrar que alguém foi injustamente acusado de ser ladrão. Pior é que nem sempre é só ladrão.

Comecemos pelo Ministério Público, o implacável (flexível só no caso da JBS): o procurador da República Marcello Miller, braço direito de Janot, deixou a Procuradoria e nos dias seguintes trabalhava com os advogados de Joesley Batista. Já é estranho; mas surgiu uma gravação em que ele analisa a defesa quando ainda deveria estar no ataque, na Procuradoria.

Vamos para Joesley. Há fortes suspeitas de que sua delação premiada tenha sido sob medida: esqueceu alguns crimes e valorizou outros. Caso sua delação seja falha, perde os privilégios que obteve e pode ser julgado, como réu confesso, pelas bandalheiras que revelou ter patrocinado.


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Que gravação é essa que surgiu de repente?

Provavelmente foi feita por engano. Mas ficaria enrustida se a Polícia Federal não tivesse obtido o áudio por outras fontes.

Só foi entregue, então, para que Joesley pudesse dizer que não havia escondido nada. Mas mesmo assim é dinamite.

E a Polícia Federal descobriu, no flat de um amigo de Geddel Vieira Lima, quatro caixas e oito malas de dinheiro que aparentemente são dele.

Até escrever sobre essas coisas faz mal.

Há ladrões em cada canto.

Verdade

Cada nova revelação transforma a ladroeira antiga em dinheiro de troco.

O cenário

Caso as falhas na delação levem ao fim dos fabulosos privilégios dos Batista, ou de pelo menos parte deles, que acontece com os denunciados?

Há duas correntes: uma, seguindo a Teoria da Árvore Envenenada (cujos frutos são imprestáveis), suspenderia todas as ações iniciadas com base nas denúncias; outra (à qual Janot se filia), acha que os maus delatores podem ser punidos sem que suas revelações se percam.

A imprensa tem noticiado, erradamente, que esta ala defende o uso das provas trazidas pela delação.

Mas não há provas: há denúncias que devem ser verificadas e confirmadas.

Por que, Janot?

Por que o Ministério Público deixou a Polícia Federal fora do caso Joesley?

Sem a Federal, a investigação foi falha – tanto que de repente surge um áudio de quatro horas que tira tudo do lugar.

Por que Janot não iniciou processo contra o presidente Michel Temer, quando sugeriu que poderia estar envolvido com Joesley e Marcello Miller – e insinuou que o perdão aos irmãos Batista foi generoso demais?

Por que aceitou, sem reação, que Gilmar Mendes o chamasse de desqualificado?

Por que aceitou premiar a delação de Joesley, quando a lei diz que chefe de quadrilha não pode ser beneficiado?

Joesley admitiu ter subornado 1.820 políticos, mais procuradores, ministros e juízes

Só pode ser chefe, jamais subalterno.

Cavalheiro, gentleman

Frase de Joesley, na tal gravação, em conversa com seu diretor Ricardo Saud, referindo-se a uma senhora que participava das negociações entre o grupo e o MP:

“Já falei para o Francisco (de Assis Silva, diretor jurídico da JBS), você tem até domingo para comer a (nome da senhora). Se não, eu é que vou comer. Francisco, é trabalho! Vou te dar até domingo que vem. Ou eu é que vou fazer o serviço. Um de nós tem de botar ela na cama”.

Geddel vai às compras

Quando Antônio Carlos Magalhães era presidente do Senado, mandou preparar um vídeo, “Geddel vai às compras”, mostrando o crescimento dos bens do deputado.

Mais tarde, ACM se referiu a Geddel como “agatunado”.

ACM era autoritário, muito controvertido, mas conhecia tudo de política.

Geddel é acusado de desviar R$ 20 bilhões do FI-FGTS – dinheiro de assalariados, que o Governo usava para emprestar a empresas que criassem empregos.

Tirar do FI-FGTS é atingir a poupança popular dos dois lados.

Titular absoluto

O presidente Itamar Franco chamava Geddel de “carrapato de gabinete”. Ele, efetivamente, está sempre num bom gabinete: foi ministro de Lula e Temer, e vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa com Dilma.

Mãe Dinah? Não, Gilmar

O ministro Gilmar Mendes, do STF, acertou a primeira previsão: de que o MP poderia ter problemas quando alguns de seus membros enfrentassem “uma montanha de dinheiro”.

Cita dois problemas: Ângelo Vieira (que foi preso) e Marcello Miller.

Agora, em suas palavras, faz mais duas “previsões oraculares”: haverá inconsistências em outras delações, como as de Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado (da Transpetro); e Janot vai terminar como Protógenes Queiroz – que, por ilegalidades cometidas na Operação Satiagraha, foi condenado pela Justiça e escapou para a Suíça.

...

E-mail: carlos@brickmann.com.br
Twitter: @CarlosBrickmann
Site: www.chumbogordo.com.br


  

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