Olha o Espetáculo do Crescimento aí, gente! 15/09/2017
- Marcelo Kfoury Muinhos*
Antes da primeira eleição da Dilma em 2010, num evento em São Paulo, me veio uma frase pronta na cabeça:
“O governo do PT iria acabar na crise que todos achamos que ele iria começar”
Estava parcialmente certo. Na verdade, o governo sofreu uma crise externa em 2002 com grande fuga de capital, principalmente de gringos com medo do Lula e acabou com uma grande crise fiscal.
Na verdade, portanto passamos de uma crise de confiança externa, quando a saída de capital dos estrangeiros levou o câmbio a R$ 4, para uma crise de confiança doméstica, que provocou a maior recessão do pós-guerra.
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Essa crise doméstica trouxe uma crise de confiança dos agentes domésticos, que pararam de pegar credito para consumo e também para investimento.
O resultando foi uma queda do PIB de mais de 8% em 2015 e 2016.
Felizmente a recessão parece que acabou em 2017.
Já tivemos 2 trimestres com resultado positivo em termos de crescimento do PIB e novamente no presente trimestre, com base nos indicadores já disponíveis, teremos mais um resultado positivo.
A virada do desemprego já em março foi uma grata surpresa, assim como os expressivos aumentos dos salários em termos reais, que é em grande parte fruto da surpreendente queda da inflação no ano.
A partir de um analise menos analítica, acho que o crescimento de 2018 será acima do que espera o consenso de mercado (2,1%), meu número é cerca de 2,5%.
Outra virada impressionante tem ocorrido nas contas externas, que na margem já está garantindo uma conta-corrente superavitária.
Mesmo sem rodar os meus modelos de cambo, se não fosse a situação política com as acusações contra o Temer, o real já estaria abaixo de R$ 3.
O forte aumento nos preços das commodities e a permanência de uma situação ainda extrema de liquidez nos mercados financeiros internacionais são as determinantes chaves dessa sobra de divisa estrangeira, que deve pressionar o real para níveis abaixo de R$ 3.
Já a queda da inflação foi determinada pela melhora da percepção fiscal com a mudança do governo em maio de 2016.
Havia um temor sobre a situação fiscal, o que aumenta o conteúdo inercial da inflação por pura tentativa defensiva de manter as margens nos preços.
Quando acalmou esse temor de completo descontrole fiscal com base da credibilidade das equipes na Fazenda e no Banco Central, o componente recessivo passou a predominar provocando forte redução dos preços.
Com base no meus modelos de inflação, o prognóstico é que a inflação acumulada de 2017 será menor do que 3%, mínimo valor para um ano desde 1998, e ao redor de 4% em 2018, o que abre espaço para os juros básicos convergirem para valores até abaixo de 7%.
A política monetária pode ser extremamente expansionista nos próximos anos dado a folga da inflação abaixo da meta e a folga no produto fruta da forte recessão dos últimos anos.
O único senão do cenário aqui traçado é o ajuste fiscal que na verdade não tem sido feito.
Brasil perdeu a capacidade de fazer ajuste fiscal, dado o comportamento frágil da arrecadação, prevejo que o déficit primário deve continuar acima dos 2% do PIB nos próximos anos.
Acho baixa a probabilidade de se ter votar a reforma da previdência que foi aprovada na comissão especial dada a perda de legitimidade do Governo Temer em demandar aprovações de medidas impopulares quase no fim do mandato.
Portanto um ajuste definitivo terá que ser feito pelo próximo governo, o que aumenta o risco na eleição do próximo ano.
Se o próximo presidente eleito não for comprometido com ajuste, o risco de dominância fiscal pode voltar.
Um fator que pode gerar uma discussão mais propositiva na eleição é a não presença do ex-presidente Lula.
No caso cada vez mais improvável da sua presença, a eleição será plebiscitária e nada de reforma será discutido.
De qualquer maneira é um risco deixar a continuação das reformas para 2019, mas o próximo presidente for comprometido com essa agenda, ele terá legitimidade e força para buscar o equacionamento da situação fiscal, gerando um ambiente propicio para aumento da produtividade e para o crescimento sustentável.
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*Professor e Coordenador do Centro Macro Brasil da FGV-EESP